O mapeamento dos casos do novo coronavírus que vem sendo feito em Maringá, e divulgado na forma de mapas pelo Boletim Epidemiológico, é um trabalho que tem a participação da UEM (Universidade Estadual de Maringá) e constitui uma das ações do Grupo de Estudos e Pesquisa Ambiente, Sociedade e Geotecnologias (Gepag).
Há pouco mais de um mês, os pesquisadores integram uma rede de cientistas e laboratórios de geografia da saúde de todo o país, que hoje formam uma força tarefa para acompanhar e analisar a difusão da covid-19 pelo território brasileiro.
“A rede da qual os pesquisadores da UEM fazem parte conta com geógrafos de todas as unidades da federação e de vários países da América Latina, além de Portugal. Os resultados do trabalho desse coletivo têm ajudado a pensar as estratégicas de contenção do vírus”, afirma Oseias da Silva Martinuci, professor do Departamento de Geografia da UEM e coordenador da pesquisa em Maringá.
Segundo Martinuci, várias análises têm sido feitas na escala nacional e na escala dos estados. Falando sobre a difusão da doença pelo interior do Paraná, o coordenador da pesquisa diz que os dados levantados até agora causam preocupações.
Ele cita, por exemplo, que na comparação com o estado de São Paulo, a velocidade de difusão do vírus pelos municípios do Paraná está sendo notadamente maior. “Na quarta semana, contada a partir do primeiro caso confirmado, o estado do Paraná teve quatro vezes mais municípios infectados que o estado de São Paulo. Em São Paulo foram 21 casos, enquanto o Paraná teve 84” , afirma Martinuci.
“Na macrorregião de saúde do Noroeste do estado, em particular, temos a segunda maior taxa de contaminação dos municípios (51%), atrás apenas da macrorregião Leste (60%).”, continua o professor.
A macrorregião Noroeste também apresenta taxas de letalidade mais altas (relação entre o número de óbitos e os casos confirmados). Em 12 de abril, esta relação chegou a 12,35%, quase o dobro da macrorregião Norte, onde está localizada Londrina, que registrou a segunda maior taxa, com índices de 6,93%, segundo o pesquisador. Na macrorregião Leste, que compreende Curitiba, o índice foi de 2,29%”.
Propagação do vírus
Considerando que a covid-19 se dispersa condicionada por estruturas de organização do território, Martinuci lembra que, basicamente, a circulação de pessoas constitui a variável fundamental da velocidade de contaminação.
Assim, os grandes centros, além de serem os mais atingidos nos primeiros momentos, também constituem portas de entrada do vírus para as regiões do interior do país e, portanto, para os pequenos municípios. Assim, o que for feito nas chamadas cidades polo determinará de maneira significativa o que acontecerá, logo em seguida, na região de influência.
O levantamento feito pelo Gepag aponta que, depois de Curitiba, as cidades onde o vírus foi introduzido mais rapidamente foram exatamente as cidades polo, especialmente, Londrina, Cascavel, Maringá e Foz do Iguaçu. “As informações divulgadas pelas secretarias de saúde desses municípios dão conta de que os primeiros casos foram importados. Só posteriormente teve início a fase de transmissão comunitária”, reforça o pesquisador.
Além disso, a modelagem espacial dos dados da covid-19 do estado do Paraná, tomando como referência o período 12 de março a 12 de abril, sugeriu a conformação de um eixo ao longo da Rodovia do Café, a BR-376, que liga Curitiba à região de Londrina e Maringá.
Através do mapa apresentado pelo grupo é possível acompanhar como está se comportando a propagação do vírus nas diferentes regiões do Estado.
As áreas mais avermelhadas correspondem aos municípios em que a transmissão comunitária dos vírus já está em processo.
Em verde, são as regiões onde a introdução do vírus se fará ou está se fazendo por importação, dependendo, portanto, do trânsito entre cidades polo e municípios menores. Amarelo e laranja são as áreas em “fase de transição”, que correspondem às regiões com municípios que registraram recentemente o primeiro caso ou que são vizinhas a municípios com circulação viral.
“O levantamento reforça o entendimento de que as decisões tomadas nas cidades situadas nas machas vermelhas do mapa, onde já temos a transmissão comunitária, influenciarão fortemente a velocidade da difusão não somente dentro cidade, mas também em toda a região”, afirma o professor da UEM.
Martinuci destaca ainda a necessidade de atenção com as três regiões em que a vulnerabilidade ao contágio pelo vírus é maior.
Umas delas se dá em eixo, ao longo da Rodovia do Café, outra com concentração de vários pontos com transmissão comunitária em processo, no Noroeste do estado, e a outra no Leste do estado, região de Cascavel, Foz do Iguaçu e Guaíra.
De acordo com o professor da UEM, a ampliação da circulação nas cidades de dinamismo econômico mais intenso, como são Maringá, Londrina, Ponta Grossa, Cascavel, Guarapuava e Foz do Iguaçu vai, invariavelmente, influenciar a circulação regional, criando condições para a chegada mais rápida do vírus aos pequenos municípios que poderão ter dificuldade em ter as demandas de saúde atendidas.
Há que lembrar que na macrorregião de Maringá, 77,87% dos municípios não contam com UTIs.
“Portanto, neste momento, a manutenção do isolamento social pode garantir maior segurança aos habitantes dos polos regionais e proteger os pequenos municípios que possuem taxas de envelhecimento mais elevadas associadas a estruturas de saúde mais frágeis”, conclui o pesquisador.
Comentários estão fechados.