O Conselho de Ensino e Pequisa (CEP) aprovou nesta quarta-feira (20/11), Dia da Consciência Negra, a criação de cotas raciais na Universidade Estadual de Maringá. O sistema de cotas raciais passa a valer no Vestibular de Inverno de 2020.
Do total de vagas de cada curso, 20% serão para cotas sociais e 20% para as raciais, dentro desse percentual ¾ das vagas vão para negros de baixa renda e ¼ ficam reservadas para negros sem esse recorte social. O restante, é para ampla concorrência.
A medida foi aprovada na Câmara de Graduação no incio do mês e foi votada agora por 109 conselheiros, o que inclui coordenadores de cursos de graduação e pós-graduação. Do total, 98 foram favoráveis, quatro foram contrários e sete se abstiveram. Dos 144 conselheiros CEP, 35 não estavam presentes.
O sistema de cotas é visto por diversos professores da universidade como uma forma de buscar igualdade perante à sociedade. No Paraná, a UEM era a única universidade pública estadual sem nenhum tipo de cotas voltadas à inclusão de negros e pardos.
O assunto esteve em pauta no CEP em 2008, porém as cotas raciais foram discutidas e rejeitadas. Na ocasião, foram aprovadas somente as sociais.
“O sentimento é de muita alegria, satisfação e alívio. Sabemos que só temos a vitória quando ela realmente chega. Estava preocupada com a resistência, mas agora fica a certeza de que a nossa universidade vai ser mais inclusiva e com mais diversidade”, afirma Marivânia Conceição de Araújo, uma das fundadoras do Núcleo de Estudos Interdisciplinares Afrobrasileiros (Neiab).
A luta por cotas raciais na UEM voltou a ganhar força em julho de 2018, quando o Coletivo Yalodê-Badá, o Neiab e o Diretório Central dos Estudantes (DCE) da universidade fazem pressão por esse tipo de cota junta à Reitoria.
Um dos maiores pedidos oficializados contou com mais de 3 mil assinaturas em um abaixo-assinado, que inclui cartas de apoio de movimentos sociais. O requerimento oficial foi entregue em agosto de 2018.
A sessão de votação foi aberta pelo reitor, Júlio Damasceno que definiu o dia como histórico. “Não apenas para a história da universidade, mas, sobretudo, para a vida de pessoas, pois as cotas implicam no projeto de famílias”.
O professor também disse que via na aprovação uma forma de reparar as injustiças históricas sofridas pelos negros. Também foi o reitor que com olhos marejados que apresentou o resultado final da aprovação das cotas raciais na universidade.
“Assumimos na campanha o compromisso de trazer o assunto para apreciação e de darmos nosso apoio. Aprovar as cotas raciais no Dia da Consciência Negra é uma grande realização, repleta de significado”, declarou o reitor.
O anuncio foi recebido por uma grande salvas de palmas, principalmente pela comunidade negra presente. Muitos se emocionaram com a decisão.
Dados da Diretoria de Assuntos Acadêmicos (DAA) da UEM sobre os cerca de 17,2 mil estudantes matriculados em cursos de graduação, separados por autodeclaração de cor, mostram que os brancos são a grande maioria.
- Brancos – 66,01%
- Negros – 20,37% (17,39% de pardos e 2,98% de pretos)
- Não declarados – 7,93%
- Amarelos – 5,29%
- Indígenas – 0,4%
Dados da Comissão de Vestibular Unificado (CVU) da UEM sobre os aprovados nos dois vestibulares mais recentes (aproximadamente 3 mil vagas), separados por autodeclaração de cor, também mostram que os brancos garantem muito mais assentos na universidade.
Vestibular de Verão 2018
- Brancos – 74,30%
- Negros – 19,21% (16,60% de pardos e 2,61% de pretos)
- Amarelos – 6,40%
- Indígenas – 0,08%
Vestibular de Inverno 2019
- Brancos – 76,49%
- Negros – 16,94% (14,95% de pardos e 1,99% de pretos)
- Amarelos – 6,57%
- Indígenas – 0%
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