Manifestação artística na UEM chama a atenção para a realidade frágil na profissão docente e celebra Dia do Professor

Desafio foi desenvolver um trabalho que não deveria ser uma atividade simplesmente comemorativa

  • Uma parceria entre estudantes de Artes Visuais, estudantes de Pedagogia e o Laboratório de Apoio Pedagógico (LAP) da Universidade Estadual de Maringá (UEM) resultou na criação de uma instalação artística no bloco I-12. A atividade celebra o Dia do Professor.

    Para fazer a montagem, nos corredores do bloco, os organizadores da instalação utilizaram desde plástico bolha até uma carteira, como mesa, e uma cadeira.

    Há também frases de efeito acerca da realidade do cotidiano dos professores, com menções sobre salários e condições de trabalho e de vida que complementam a intervenção prevista para se estender até o final desta semana.

    A professora do curso de Pedagogia, Luciana Lacanallo, conta que a manifestação foi motivada pela necessidade de fazer as pessoas pensarem sobre qual o lugar e função social que o professor ocupa na sociedade.

    A convite dela, o também professor João Paulo Baliscei, do curso de Artes Visuais, conclamou os alunos a se engajarem na preparação da instalação artística.

    O desafio foi desenvolver um trabalho que não deveria ser uma atividade simplesmente comemorativa, voltada unicamente para saudar a classe pela data, comemorada em 15 de outubro, devido à situação precária pela qual a Educação se encontra.

    Definida a ideia da intervenção num espaço físico onde estão alocados muitos dos estudantes de licenciatura da UEM, Baliscei diz que a preocupação foi provocar a reflexão dos acadêmicos a respeito da profissão docente no Brasil.

    Expressão de arte contemporânea, dos séculos 20/21, a instalação permite a interação das pessoas, diferente de uma expressão artística em que o visitante apenas aprecia.

    Com isso, os dois professores envolvidos no evento, ambos do Departamento de Teoria e Prática da Educação (DTP), querem observar a sensação de cada estudante do local.

    Como o plástico bolha está fixado em todo a extensão dos corredores do térreo que dão acesso aos pisos superiores, não há como deixar de pisar e muito menos de não fazer barulho.

    A ideia de pôr este tipo de plástico, comumente usado para proteger embalagens durante o transporte, reside na intenção de expressar a noção de fragilidade, “de algo que precisa ser cuidado”, explica Beliscei.

    Para além da característica tátil do produto, o professor cita o ruído causado pelas pisadas, remetendo à imaginação de que não estamos caminhando com cuidado. “Estar aqui é assumir a luta”, diz o professor.

    Destacando ser este o primeiro movimento a integrar os cursos de Artes Visuais e Pedagogia na UEM, Luciana esclarece que, ao optar pela manifestação artística, houve também a concepção de explorar a visualidade do chão por meio de frases como “Capes anuncia corte de mais de 5 mil bolsas de estudo” e “O desemprego entre mestres e doutores no Brasil chega a 25%”.

    O detalhe é que as frases estão acompanhadas QR Code, um código de barras bidimensional capaz de permitir a leitura completa do texto do qual foi retirada a citação.

    Uma carteira no papel de mesa abriga 1.400 gizes e uma cadeira com pouca ergonomia  completam o cenário. O número de gizes é exatamente a quantidade de professores, efetivos e temporários, no câmpus sede da UEM, em Maringá, segundo dados repassados aos organizadores pela Pró-Reitoria de Recursos Humanos e Assuntos Comunitários.

    Para a estudante do 3º ano de Pedagogia, Janaína Batista, a manifestação é interessante, porque “é uma forma de protesto sobre as condições da vida de professor” e a ideia do plástico bolha, segundo ela, remete à noção de fragilidade e tem muito a ver com a realidade de um docente.

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