Quando os únicos instrumentos do professor de escola pública são a voz, o giz e o quadro, o aprendizado da Matemática, em um cenário cada vez mais tecnológico, pode se tornar maçante. Glaucio Pedro de Alcantara sabe muito bem disso. Durante a infância teve dificuldade para aprender Matemática. Mas hoje, é coordenador do curso de Engenharia Elétrica da Universidade Estadual de Maringá (UEM).
Para unir a Matemática e o desejo de trabalhar com crianças e adolescentes de escolas públicas, o professor decidiu criar um projeto que oferece curso de robótica educacional nos colégios. Glaucio Alcantara e a mulher tiraram dinheiro do próprio bolso para comprar os kits de robótica e outros materiais para as aulas. Com apoio de 32 estudantes voluntários da UEM, deram início ao projeto “Lapidando Joias: um resgate ao futuro”.
A ideia é elevar o desempenho escolar, em especial na disciplina de Matemática, de 45 alunos que demonstrem dificuldade de aprendizagem. Inicialmente, quatro escolas públicas de Maringá com baixo Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), três estaduais e uma municipal, vão receber o projeto.
A iniciativa desenvolve raciocínio lógico a partir da utilização de kits educacionais de robótica da empresa Lego e kits de Arduino que podem ser confeccionados em uma impressora 3D. Para participar das atividades, os alunos recebem apostilas coloridas e jalecos com logotipo do projeto e da UEM sem nenhum custo.
“Esse kit é usado nas melhores escolas particulares do mundo. Em países do continente europeu que usam esse kit, os alunos melhoram significativamente a concentração, raciocínio lógico e aprendem a trabalhar em equipe. Para essas crianças que têm dificuldades de aprendizagem e extra classe, isso ajuda muito. A robótica não é o fim, é uma ferramenta para melhorar esse meio”, afirma Glaucio Alcantara.
As aulas para o 7º ano dos colégios estaduais Vinícius de Morais, Duque de Caxias e Silvio Magalhães de Barros e nos 4º e 5º anos da escola municipal Professora Benedita Natália Lima começaram nesta semana. Segundo Alcantara, os professores começaram a observar uma mudança de postura no comportamento dos alunos, que no caso dos colégios estaduais precisam vir fora do horário normal de aula para participar do projeto.
Logo na primeira aula de robótica, os estudantes conseguiram montar um robô que anda em linha reta. Uma grande novidade para quem estava acostumado com a Matemática dos cálculos no quadro. O curso é desenvolvido em cada escola com carga horária de duas horas semanais ao longo de 15 de semanas e deve terminar em dezembro.
Para auxiliar nas atividades, 32 acadêmicos voluntários da UEM dos cursos de licenciatura em Matemática, engenharias Elétrica, Mecânica e Civil e Informática atuam como monitores. Depois de um semestre, os alunos dos colégios serão desafiados a desenvolver um projeto envolvendo robótica.
A iniciativa dos estudantes ficará exposta em um lugar público e a equipe que obtiver a melhor avaliação ganhará um prêmio. A escola receberá a doação de kits de robótica para atender uma turma de 30 alunos e ampliar o acesso para mais estudantes.
A cada semestre, outras escolas de baixo IDEB também vão receber a iniciativa e repetir o ciclo de ensino. A ideia do professor é expandir o projeto e criar nos próximos anos uma olimpíada de robótica entre as escolas públicas de Maringá.
“Nós vemos eles [os alunos] como joias, que precisam ser lapidadas para chegarem no brilho máximo que podem atingir. Por isso, a gente compra um jaleco, para que eles se sintam valorizados e saibam que podem ser um cientista ou um professor”, diz Glaucio Alcantara.
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