Não falar sobre suicídio ou falar de forma errada. Duas situações preocupantes e que despertaram em uma dupla de amigos a iniciativa de criar uma campanha de conscientização para promover o diálogo sobre suicídio. É assim que, em 2017, surgiu o projeto Cartas Amarelas.
A ideia é do publicitário Guilherme Morais e do administrador Santiago Sipoli e realizada pela Brazutopia, um coletivo de experiências voltado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) propostos pela ONU na Agenda 2030. A ação faz parte do Setembro Amarelo, mês de conscientização e prevenção do suicídio.
O Carta Amarelas convida as pessoas, por meio do site, a escreverem mensagens de apoio para quem não está bem emocionalmente. O objetivo é criar uma grande rede de afeto e mobilizar as pessoas para que aprendam sobre o assunto. Além das palavras de força, o site do projeto traz artigos escritos por psicólogos.
“É muito importante falar sobre suicídio porque é algo que está acontecendo, ele é um vizinho da sociedade e que está presente na nossa vida o tempo inteiro. As pessoas não estão bem e estão sofrendo ainda mais com a falta de informação. É importante cuidarmos uns dos outros, a gente vê que é necessário, as pessoas estão precisando”, diz Guilherme Morais.
No ano passado, Maringá registrou 33 casos de suicídio e apenas no primeiro semestre deste ano, mais 11 casos, segundo dados da Vigilância Epidemiológica. Durante o mês de setembro, o Comitê de Prevenção e Posvenção do Suicídio, formado pela Secretaria de Saúde em parceria com outras instituições, organizou uma série de ações de conscientização na cidade.
No projeto organizado pela Brazutopia, as cartas escritas no site são analisadas por um grupo de psicólogos voluntários. Após aprovadas, as mensagens são impressas, sem o nome de quem escreveu, em folhas amarelas totalmente renováveis. As cartas são distribuídas em instituições e empresas parceiras do projeto que expõem as mensagens para que outras pessoas possam ler palavras de afeto.
O site do projeto também recebe cartas com pedidos de ajuda. Nesse caso, as mensagens são avaliadas pelos psicólogos que encaminham as pessoas para serem acolhidas pelo Centro de Valorização da Vida (CVV) ou na rede pública.
“A gente precisa respeitar, abraçar, ouvir e, principalmente, acalmar esse coração e fazer o encaminhamento emocional. Nosso projeto não substituiu a necessidade procurar um profissional de psicologia”, afirma Morais.
O Cartas Amarelas também organiza ações em instituições que atendem crianças e adolescentes. A ideia, batizada internamente de “cartinhas amarelas”, leva psicólogos para promover atividades nessas instituição. Ao final, as crianças e adolescentes também são convidados a se expressarem por meio de cartas ou desenhos. As mensagens são trocadas entre as instituições e os pedidos de ajuda encaminhados para atendimento psicológico.
Inspirado na brigada de incêndio que atua em situações de emergência, o Cartas Amarelas também promove uma brigada de saúde mental nas empresas. Uma equipe de funcionários recebem treinamento e orientações de psicólogos para identificar sinais e ajudar os colegas de trabalho quando necessário.
Com a venda de produtos personalizados, o projeto também arrecada dinheiro para a Associação Maringaense de Saúde Mental. Um desses produtos é o personagem Amê feito de maneira artesanal para “apertar, amassar e a amar de montão”. Segundo o publicitário Guilherme Morais, o serzinho amarelo, que tem até perfil no Instagram, pode ser um presente para alguém que não está bem.
No Brasil, o CVV oferece atendimento voluntário e gratuito 24 horas por dia para quem está com pensamentos suicidas ou enfrenta outros problemas. Basta discar 188 de qualquer aparelho, fixo ou celular, de qualquer lugar do país, que um voluntário vai atender.
Além do telefone, o CVV também faz atendimento por e-mail e pelo chat no site. É garantido o anonimato de quem busca atendimento e dos voluntários, e as ligações não podem ser rastreadas. Para o Setembro Amarelo, a organização também preparou uma série de vídeos sobre o tema. Um deles orienta sobre o que não fazer na prevenção do suicídio.
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