Professores criam grupo para defender implantação de cotas raciais na UEM. Debate está só começando

Representante dos professores explica que o sistema de cotas raciais é uma espécie de reparação histórica

  • Professores da Universidade Estadual de Maringá (UEM) decidiram se reunir para explicar, em diversos órgãos colegiados da instituição, a necessidade da implantação das cotas raciais na UEM. Chamado de “Professores Pró-Cotas Raciais na UEM”, o grupo reúne nove docentes e está aberto para que outros professores participem.

    O grupo foi autorizado pela reitoria e vai ter espaço de 15 a 20 minutos nas reuniões dos conselhos interdepartamentais dos centros, Conselho de Pesquisa, Ensino e Extensão (CEP) e Conselho Universitário (COU) para apresentar argumentos que mostrem a necessidade da implantação das cotas raciais na UEM.

    “Nossa intenção é contribuir para o debate. Muitas pessoas são contrárias ou não têm opinião sobre as cotas porque não têm informações. Há mais de uma década grandes universidades como a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade de São Paulo (USP) e a Universidade Federal do Paraná (UFPR) têm cotas raciais e colheram resultados positivos”, afirma a professora e integrante do grupo, Marivânia Araújo.

    No requerimento enviado à reitoria, os professores também pedem uma política mais ampla da atual gestão da UEM para fomentar o debate sobre adoção das cotas. A proposta de criação de cotas raciais na universidade começou a ser discutida oficialmente em setembro do ano passado.

    A pedido da Câmara de Graduação do CEP foi criado um grupo para discutir o tema. Segundo Marivânia Araújo, o grupo debateu o assunto e enviou uma proposta de cotas raciais para análise do colegiado da Câmara de Graduação. O pedido ainda precisa ser colocado na pauta de discussão, ou seja, não há prazo ou data específica para que a proposta seja analisada.

    O sistema de cotas raciais, que reserva vagas para negros e índios em universidades públicas, foi considerado constitucional por unanimidade pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em 2012. Entre as sete universidades estaduais do Paraná, apenas a UEM não tem cotas raciais. A universidade tem apenas cotas sociais que, de acordo com a professora Marivânia Araújo, não são suficientes para atender à população negra.

    “As cotas sociais não aumentaram o número de negros na universidade e se houve aumento foi ínfimo. O que queremos é uma entrada significativa de negros na universidade. Partimos do princípio de que brancos e negros são tratados e têm oportunidades diferentes na sociedade e essa diferença está marcada pelo preconceito. As cotas raciais não são uma forma de acabar com o racismo, mas de atenuar os efeitos na sociedade”, afirma Marivânia.

    A professora explica que o sistema de cotas raciais é uma espécie de reparação histórica. “No final da escravidão não houve uma política de ação afirmativa para a população negra. Isso aconteceu há mais de 100 anos e continua acontecendo. Hoje, são poucas políticas para a população negra e que fazem com que os negros continuem abaixo nos estratos sociais”.

    Para Marivânia Araújo, as cotas também fortalecem o princípio da universidade pública. “A universidade pública deve estar aberta ao máximo de pessoas e a maior diversidade possível. A universidade não deve ficar fechada a um grupo exclusivo, mas ser plural. As cotas raciais abrem a possibilidade de promover essa diversidade”.

    Os docentes integrantes do grupo são os professores Marivânia  Araújo, Carla Almeida, Hilton Costa, Simone Dourado, Meire Mathias e Zuleika de Paula Bueno (Departamento de Ciênciais Sociais/DCS), Isabel Cristina Rodrigues e Delton Aparecido Felipe e (Departamento de História/DHI) e Josiane Oliveira (Departamento de Administração).

    As professoras ou professores que desejarem se somar ao grupo devem entrar em contato pelo e-mail [email protected].

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