O que separou Yuri Gabriel Rodrigues, 21 anos, lutador de jiu jitsu (categoria Pena – até 69 quilos), de lutar por uma medalha no Mundial de Jiu Jitsu 2019, nos Estados Unidos, foi o dinheiro para custear o processo para a retirada do visto, sua viagem e hospedagem.
Classificado e com grande potencial, o jovem lutador viu o sonho de lutar pelo título mundial esbarrar na falta de apoio e patrocínio. “É claro que fiquei triste, mas sigo em frente. Vou tentar participar do Mundial no ano que vem”, afirmou Yuri.
Esse está longe de ser o primeiro percalço na carreira. Aliás, o jovem luta todos os dias fora do tatame para vencer o destino. Há três anos, ele trocou a periferia do Rio de Janeiro, onde morava com a mãe e a irmã caçula, por Maringá.
Conseguiu chamar a atenção de um dos maiores professores da modalidade no Brasil: Rodrigo Garcia “Feijão”, que em 2005 criou o “Clube Feijão” para fomentar o desenvolvimento de atletas de jiu jitsu competitivo com base nos pilares da educação, disciplina e melhoria da qualidade de vida.
“Conheci o professor do Feijão em um campeonato no Rio de Janeiro, e disse que gostaria de ir para Maringá treinar com ele. Fiz o contato com o Feijão e vim”, resume o atleta de 1,83m.
Yuri veio a primeira vez para Maringá para uma estada de 15 dias de treinamento, com vistas ao campeonato Sul-Americano. Foi eliminado na segunda luta, mas ao invés de voltar para o Rio decidiu mudar para a cidade.
Orientado por Feijão, a quem tem como ídolo, passou a treinar com mais afinco e os resultados começaram a aparecer: em 2017 ganhou o Sul-Americano de Jiu Jitsu, o Grand Slam de Abu Dhabi e o Brasileiro de Equipes.
Ainda ficou em terceiro no individual nacional. No ano passado, faturou o Floripa Fall International Open, em Florianópolis (SC).
Em 2019, acumula três ótimos resultados: campeão do Grand Slam de Londres e o terceiro lugar em outras duas competições, o Abu Dhabi World Pro Jiu Jitsu e o Brasileirão, com a participação de 85 inscritos.
Yuri Gabriel Rodrigues conheceu o esporte em 2005, em um projeto social no bairro Itanhangá, do qual participou por três anos. Em 2014, retornou ao tatame por meio do Projeto Povão Jiu Jitsu “porque ficava muito tempo sem fazer nada”, mas só ano seguinte começaria a competir.
O hobby virou carreira, lhe trouxe novas perspectivas e passou a alimentar sonhos. No entanto, apesar da surpreendente sequência de resultados e de despontar como promessa na categoria, Yuri ainda não colhe os louros. A realidade é bem dura.
Ele recorda que em uma das competições, chegou a dormir na rodoviária porque não tinha dinheiro para hospedagem. E, mesmo assim, chegou à final.
“Fui com dinheiro contado, só para a ida, focado em vencer a competição e ganhar o prêmio de R$ 1 mil. Na final deu empate, mas o juiz acabou dando a vitória para o meu adversário. Depois, o coordenador do evento me chamou num canto, disse que eu lutei muito bem e me deu um dinheiro. Assim, consegui voltar.”
Yuri Gabriel Rodrigues concilia os treinos, três vezes por dia, o que totaliza de 5 horas a 6 horas, com os bicos – seja na academia ou em outros lugares – para custear as despesas básicas, como alimentação e o aluguel do imóvel que divide com vários lutadores de diferentes estados.
Vez e outra, o atleta recebe ajuda da academia e de colegas lutadores, mas não sobra nem para visitar a mãe, que é diarista, e a irmã de 12 anos. A última vez que voltou para casa foi em setembro de 2018.
A próxima visita ainda não tem data certa, mas pode em setembro, quando pretende aproveitar a participação em um campeonato no Rio. Em meio a tanta dificuldade, ele não titubeia. “É difícil, mas não me vejo fazendo outra coisa.”
Yuri já mostrou que tem talento, persistência e foco. O que lhe falta é patrocínio. Ele busca parceiros para voar alto. E tem fôlego pra isso. É como diz em uma das suas postagens no Instagram: “Só quem se arrisca merece viver o extraordinário.”
Para saber mais sobre o atleta, siga o Yuri no Instagram @yurirodriguesjj.
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