Existem 27 tipos de agrotóxicos na água em Maringá, revela reportagem. Sanepar questiona dados e garante qualidade

Compartilhar

Será que você bebe agrotóxicos? Em busca dessa resposta, os veículos de comunicação focados em jornalismo investigativo Agência Pública e Repórter Brasil, em parceria com a organização suíça Public Eye, revelaram que um “coquetel” com 27 agrotóxicos pode ser encontrado na água de 1 em cada 4 municípios brasileiros.

Com base nos dados disponíveis pelo Ministério da Saúde, a reportagem apresenta um mapa interativo com os agrotóxicos que foram encontrados na água das cidades brasileiras de 2014 a 2017. De acordo com o mapa, Maringá não fica fora da média nacional. Aqui na cidade foram 27 agrotóxicos detectados na água, 11 deles associados a doenças crônicas como câncer, defeitos congênitos e distúrbios endócrinos.

Apesar disso, nenhuma substância foi detectada acima dos limites brasileiros ou europeus na cidade. Na União Europeia, o máximo de agrotóxico permitido é 0,5 microgramas por litro de água, somando todos os agrotóxicos encontrados. Aqui no Brasil, há apenas limites individuais. Somando todos limites permitidos para cada um dos agrotóxicos monitorados, a mistura de substâncias na água pode chegar a 1.353 microgramas por litro. 

Os dados obtidos pela Agência Pública e a Repórter Brasil fazem parte do Sistema de Informação de Vigilância de Qualidade da Água (Sisague), que reúne testes feitos pelas empresas de abastecimento. A reportagem relata que as informações são públicas, mas que não são divulgadas de maneira compreensível para a população.

Em nota publicada na terça-feira (16/4), a Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar) afirma que garante a qualidade da água e que “segue rigorosamente a legislação brasileira que determina os parâmetros de potabilidade da água para abastecimento público”.

De acordo com a reportagem, o Paraná é o segundo Estado brasileiro em número de municípios onde todos os 27 agrotóxicos estavam na água, ficando atrás apenas de São Paulo. Entre os 399 municípios, o “coquetel tóxico” está presente em 362. No entanto, a Sanepar diz que as informações da reportagem estão incompletas.

“No momento de registrar os resultados de suas análises, não há no cadastro do Sisagua a opção de informar a não detecção do princípio ativo do composto. O Sistema de Informação aceita apenas o registro como “no limite” em vez de “ausente”. Desta forma, fica registrada a presença de agrotóxico na água, mesmo que não tenha sido detectada, distorcendo a informação”, afirma a companhia em nota.

Audiência pública discute uso de agrotóxicos em Maringá

Na segunda-feira (22/4), uma audiência pública vai discutir o uso de agrotóxicos em Maringá e na região. O evento é organizado pelo Fórum Paranaense de Combate ao Uso de Agrotóxicos e vai apresentar dados sobre os perigos das substâncias para saúde e meio ambiente, além de projetos de leis e ações que possam reduzir o uso das substâncias.

A audiência começa às 14h no anfiteatro do campus da Pontifícia Universidade Católica (PUC-PR) em Maringá. A Procuradora Regional do Trabalho e coordenadora executiva do Fórum Paranaense de Combate aos Agrotóxicos, Margaret Matos de Carvalho, vai participar do evento e afirma que o tema ainda é pouco debatido. “A população é obrigada a suportar esse uso abusivo de agrotóxicos e não tem direito de saber os efeitos disso”.

Segundo a procuradora, o Brasil precisa iniciar uma política de redução do uso de agrotóxicos. Para isso, de acordo com ela, é necessário proibir substâncias que já não são permitidas em outros países, reduzir o número de agrotóxicos, acabar com a isenção de impostos sobre o produto e exigir que sejam feitas avaliações periódicas.

No entanto, o Brasil caminha na contramão do que deseja a procuradora. A reportagem da Agência Pública e da Repórter Brasil informa que desde o início do ano o Ministério da Agricultura publicou novos registros para 152 agrotóxicos, ou seja, mais de uma aprovação por dia. A Ministra da Agricultura, Tereza Cristina, também já chamou de  “desinformação” os estudos que apontam os riscos dessas substâncias.

“Os órgãos públicos refletem a visão de mundo do chefe de governo naquele momento. Infelizmente, onde o agronegócio tem força econômica, a visão do órgão público é que as vezes precisa ser conivente com o uso excessivo dos agrotóxicos. Mas qualquer pessoa instruída não pode concluir diferente de que estamos vivendo uma loucura coletiva em permitir que o veneno continue sendo usado dessa forma”, declara Margaret Matos.


Compartilhar

Autor

Notícias Relacionadas