Maringá não vai ter comemoração oficial do golpe de 1964. Exército só vai fazer evento na capital

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As unidades militares no interior do Paraná, como é o caso do Tiro de Guerra de Maringá, não vão realizar atividades em comemoração ao dia 31 de março, data que marca o golpe de 1964, que deu início à ditadura no Brasil.

A informação é do departamento de Comunicação Social do Comando da 5ª Região Militar em Curitiba. Em resposta aos questionamentos do Maringá Post, o Comando da 5ª Região Militar informou que “todas as atividades comemorativas à data vão ser realizadas no Forte Pinheirinho, em Curitiba, para o público interno.”

As ações fazem parte de uma determinação do presidente Jair Bolsonaro (PSL) ao Ministério da Defesa para que as unidades militares organizem atividades de comemoração em referência ao dia 31 de março.

A decisão foi confirmada na segunda-feira (25/3) pelo porta-voz da presidência, general Otávio Rêgo Barros. Porém, a ala militar de Bolsonaro, que é a maior em um governo desde a ditadura, diverge sobre celebrar a data.

Em 31 de março de 1964, um golpe militar e civil derrubou o governo do presidente João Goulart e iniciou um regime ditatorial que durou 21 anos. Durante esse período não houve eleições diretas para presidente. Também foram registrados atos de censura, tortura e cassação de direitos políticos.

De acordo com o porta-voz do governo, Bolsonaro não considera a data como golpe militar. “Ele considera que a sociedade reunida e percebendo o perigo que o país estava vivenciando naquele momento, juntou-se com civis e militares e nós conseguimos recuperar e recolocar o nosso país num rumo que salvo melhor juízo, se tudo isso não tivesse ocorrido, hoje nós estaríamos tendo algum tipo de governo aqui que não seria bom para ninguém”.

Em maio do ano passado, durante a greve dos caminhoneiros, grupos se ajoelharam em frente ao Tiro de Guerra de Maringá pedindo por uma intervenção militar no país.

Decisão de Bolsonaro não surpreende, afirma professor

O professor do Departamento de História da Universidade Estadual de Maringá (UEM), Reginaldo Benedito Dias, afirmou que não se surpreendeu com a determinação do presidente.

Para Reginaldo Dias, Bolsonaro nunca escondeu dos eleitores o que pensa sobre a história recente do Brasil. O presidente, por exemplo, já afirmou ter como ídolo o coronel Carlos Brilhante Ustra, morto em 2015. Ustra foi comandante do DOI-Codi do II Exército, em São Paulo, onde teriam morrido 45 prisioneiros.

O professor explicou que, para a historiografia, o que ocorreu em 31 de março de 1964 é configurado como um golpe de estado civil-militar. “Houve uma deposição ilegal do presidente da república baseada em fatos falsificados de que ele teria abandonado o Brasil. Porém, não foi exclusivamente militar, já quem declarou o golpe foi o Congresso Nacional”.

Na visão de Reginaldo Dias, a parcela da sociedade que considera que não houve golpe e um período ditatorial no país se baseia no fato de que a tomada do poder foi necessária para combater o chamado “fantasma do comunismo”. Porém, ele disse acreditar que não havia esse tipo de influência ideológica no país.

“O presidente João Goulart tinha uma pauta de reformas cidadãs e no Brasil o que se considera como anti-comunismo serve para conter plataformas de pautas sociais, mas naquele contexto de ânimos acirrados era visto como risco para o país”, explicou o professor.

Reginaldo Dias considera normal que em um ambiente democrático ocorram discussões contrárias ou a favor do golpe de 1964, desde que não desrespeitem as instituições do país. “Essa visão sobre o passado seria danosa se implicasse em autoritarismo, seria danosa pelo que sofremos na ditadura e do tempo que demorou para se reconstruir o Estado Brasileiro”.


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