A denúncia de suposto assédio em ônibus do transporte coletivo em Maringá feita por meio do Twitter na terça-feira (12/2) chegou até o prefeito Ulisses Maia (PDT). Ativo na rede social, o prefeito foi cobrado pelos internautas e respondeu que poderia fazer algo para resolver a situação. “Podemos inclusive mandar ele para a cadeia”, tuitou energicamente.
Para o Maringá Post, o prefeito Ulisses Maia disse que acionou a gerente do transporte coletivo da Secretaria de Mobilidade Urbana (Semob) para que o caso fosse comunicado à empresa. Na visão dele, as redes sociais tiveram papel importante para que a denúncia fosse feita.
“Muitos assuntos chegam até mim pela rede social e esse caso em especial é gravíssimo. Não fosse pela rede social, talvez ela não teria como denunciar o caso e fazer a denúncia chegar até a mim”, afirmou.
Porém, a Delegacia da Mulher de Maringá não registrou o Boletim de Ocorrência (B.O) do caso. Segundo a delegada Magda Hofstaetter, a passageira afirmou na delegacia que não houve nenhum tipo de toque ou ato libidinoso. De acordo com Magda, o B.O não pode ser registrado porque “não houve crime”.
A passageira, que pediu para não ser identificada, contou que o caso ocorreu na segunda-feira (11/2), por volta das 19h, na linha 324 (Conjunto Thais – Porto Seguro). Ela queria ir até o terminal, mas pegou o ônibus no sentido bairro. Quando entrou no veículo, sentou no banco atrás do motorista e o passageiro que estava ao lado disse que o ônibus voltaria ao terminal.
Quando chegou no ponto final, o motorista informou que aquela era a última volta do ônibus e que o veículo seria levado até a garagem. A passageira desceu e foi caminhando para outro ponto, na tentativa de esperar outro ônibus.
No caminho, o motorista passou e ofereceu carona até a garagem. Ela aceitou e dentro do ônibus, ele teria dito que morava perto do bairro onde vive a passageira e que poderia dar uma carona no carro dele após deixar o ônibus na garagem.
Antes de chegar no destino final do ônibus, a passageira contou que o motorista pediu para que ela descesse em um posto de combustível, na Avenida Morangueira, até ele guardar o veículo, já que não poderia ser visto com ela dentro do ônibus.
“Ele insistiu em me levar para casa. Eu falei para ele que ia pedir um Uber, mas ele falou: “espera eu pegar meu carro”. Acho que ele me disse isso umas três vezes”, contou.
No posto de gasolina, a passageira disse que pediu para o frentista pedir um carro do aplicativo, já que o celular dela estava sem bateria. Ela contou que em nenhum momento o motorista tentou agarrá-la ou disse algo, mas que percebeu olhares diferentes por parte dele.
No dia seguinte, ela decidiu procurar ajuda e foi até a Secretaria da Mulher. Lá, ela foi orientada a registrar Boletim de Ocorrência. “Na Secretaria da Mulher eles me deram a maior força, só que na Delegacia da Mulher eles não me deram muita atenção. Depois que eu contei o que aconteceu, veio uma mulher que estava no escritório atrás e disse que não teria como registrar B.O. por uma suposição minha”.
Delegada cobra consciência nas redes sociais
Para a delegada da Delegacia da Mulher, Magda Hofstaetter, não houve crime para que se pudesse registrar o B.O. Ela também disse que a passageira não estava em situação de perigo. “Pelo o que ela falou para nós, o motorista é quem quis evitar que ela estivesse em uma situação de perigo”, afirmou.
Magda disse que pelos relatos da passageira, ficou confirmado que o motorista não praticou nenhum ato libidinoso, tocou ou falou algo que pudesse ser considerado crime.
A delegacia orientou para que a passageira informasse o caso para a empresa responsável pelo transporte coletivo. “Aqui a gente tem fatos mais graves para apurar do que registrar o que poderia ter ocorrido”.
A delegada também declarou estar surpresa com proporção que o fato está tomando nas redes sociais. Segundo ela, é preciso ter consciência das postagens que são feitas no ambiente virtual. “É muito fácil passar pelas redes sociais criticando as autoridades, mas tem que alertar essas pessoas que Facebook não é brincadeira e que dependo do que for feito pode ter consequências graves”.
Coordenadora do Cram diz que B.O deveria ter sido registrado
A Coordenadora do Centro de Referência à Mulher (Cram) Maria Mariá, Renata Muraro, confirmou que atendeu a passageira e pediu para que ela procurasse a Delegacia da Mulher. Ao ser informada que o boletim não foi registrado, Renata disse estar chocada.
“Foi uma situação de risco que ela correu e o boletim de ocorrência é um instrumento a favor da vítima, independente de ter acontecido [o fato] ou não”.
Na visão de Renata, o fato do motorista oferecer uma carona com o próprio carro não pode ser tratado como algo normal da atividade profissional. “Acho que é um desvio de conduta profissional. Enquanto motorista, ele deveria fazer a rota dele e deixar ela em uma posição tranquila”, afirmou.
A Secretaria da Mulher realiza uma campanha de conscientização sobre assédio sexual nos ônibus. Chamada de “Busão sem Abuso”, a campanha visa a encorajar as mulheres que utilizam o transporte público coletivo a denunciar qualquer ato abusivo ocorrido no ônibus. Porém, como mostrou reportagem do Maringá Post no ano passado, por insegurança, poucas pessoas denunciam.
A empresa Transporte Coletivo Cidade Canção (TCCC), que administra o transporte coletivo em Maringá, disse ter sido informada pela Sebom, lamentou o episódio e informou que trabalha para esclarecer os fatos. A empresa também informou que há onze ônibus que fazem a linha 324 no começo das noites e vai precisar de mais detalhes para conseguir identificar qual era o motorista.
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