A prática da corrupção está ligada ao pouco desenvolvimento do cérebro. É o que afirma a pesquisadora da Universidade Estadual de Maringá (UEM), Débora de Mello Sant’Ana, que há 25 anos estuda o desenvolvimento da área pré-frontal do cérebro e sua complexidade e que, em outubro, fará palestra no Congresso Médico de Maringá – A Medicina do Futuro.
Segundo ela, a corrupção está ligada ao córtex, a última área do cérebro a ficar madura, processo que se completa ao final da adolescência. “A marca do fim da adolescência é o amadurecimento desta área, com desenvolvimento do raciocínio abstrato, associação de causa e consequência, planejamento”, explica a professora.
O comportamento corrupto, avalia Débora, é quando não se tem o córtex bem desenvolvido: “O político que desvia uma verba destinada à merenda escolar não está sendo capaz de compreender que crianças vão ficar sem alimento. Ele é incapaz de sentir culpa ou remorso e de associar seus atos com perdas futuras de outras pessoas”.
Para a neurocientista, é possível que ocorram questões fisiológicas, sobretudo de origem hormonal, mas o primordial são as questões culturais e os julgamentos morais: “O desenvolvimento do pré-frontal depende de aprender a lidar com limites, espera, frustração, atribuição das consequências de seus atos, punições desde o nascimento”.
“Para que uma pessoa torne-se corrupta – continua -, também precisa ir aprendendo aos poucos, é uma sequência de 20 ou 30 anos de influência social, familiar, escolar, que vai contribuindo para formar o comportamento distorcido, sem o amadurecimento”. Segundo ela, “tudo na vida tem consequência e o cérebro vai testando os limites”.
“Quando a pessoa não recebe isto, ela não aprende. A mesma criança que deixa de fazer a tarefa, que morde o coleguinha na creche e não tem correção verbal, não tem motivo para considerar que aquilo foi algo errado. Então, a correção verbal e a punição são necessárias para ajuda a criança a aprender sobre as consequência de seus atos”, diz Débora Sant’Ana.
A pesquisadora da Área de Neurociência e Plasticidade Neural entende que “estamos numa sociedade altamente permissiva por diferentes motivos: há uma linha que acredita que é errado qualquer tipo de punição – não confundir com bater. Outra é altamente protetiva, a desleixada, a sem tempo, a que deixa que a TV e a internet eduquem os filhos”.
“A gente vai construindo este sujeito. Se houver alguma dificuldade hormonal ou genética, junto com os espelhos que a pessoa convive, completa-se a tendência ao desvio”, diz Débora Sant’Ana, que é professora de graduação e do projeto de pós-graduação da UEM. O tema da palestra será “O cérebro dos corruptos e a neurociência dos valores”.
Débora de Mello Sant’Ana é graduada em Farmácia, Mestre e doutora em Biologia Celular, com especialização em Bioética Clínica pela Cátedra da Unesco. Como forma de aprimorar sua atuação didática para a educação formal e não formal, também cursou Pedagogia. Atualmente é professora Adjunta D da UEM e atua no ensino de Morfologia e pesquisas.
Segundo ela, por séculos os cientistas não atribuíam grandes funções para o pré-frontal, mas hoje sabe-se de sua complexidade e o quanto o córtex regula a vida das pessoas controlando outras áreas do próprio cérebro. O Congresso Médico de Maringá é organizado pelos acadêmicos de Medicina UEM, Uningá e Unicesumar e tem o apoio do Convention Bureau.
O evento terá mais de 30 palestras, que abordarão, por exemplo, Inteligência Artificial, Nanotecnologia, Uso da Realidade Virtual e Estendida e Construção de Órgãos em Impressora 3D. Também vai tratar de saúde mental dos estudantes e profissionais da saúde, relação entre médico e paciente, segurança do paciente e medicina humanitária e de catástrofe.
- Serviço
O que: Congresso Médico de Maringá e 1º Congresso do HURM
Quando: 11, 12 e 13 de outubro
Onde: Vivaro – Avenida Virgílio Manilia, 21784 – Jardim Ouro Cola – Maringá
Mais informações: pelo site do evento
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