População de idosos em Maringá vai quase triplicar em 22 anos. Mas a cidade está preparada para atender essa demanda? Para especialistas, há mais perguntas do que respostas

  • Em 22 anos, Maringá terá quase o triplo de idosos. Atualmente, são 42,5 mil com mais de 65 anos, que representam 12% da população. Em 2040, serão 119 mil. As informações do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes) suscitam a pergunta: Maringá está preparada para o envelhecimento da população?

    Apesar de parecer um futuro distante, essa é uma realidade discutida pelos técnicos da prefeitura e órgãos da sociedade que planejam o futuro da cidade. Hoje, Maringá é conhecida por ser uma cidade que oferece qualidade de vida, tanto que há dois anos consecutivos é considerada a melhor cidade do país pela revista Exame.

    O processo de envelhecimento populacional não é uma particularidade de Maringá. As projeções para o Paraná indicam que, em 2060, 37% da população serão de idosos, ante os 8% de 2010. Mas a cidade tem lá suas vantagens desde já, pois encontra-se entre as  20 grandes cidade do país mais bem preparadas para enfrentar o envelhecimento.

    Segundo o Instituto de Longevidade Mongreal Aegon e a Fundação Getúlio Vargas (FGV), Maringá ocupa o 18º lugar do ranking nacional. O relatório aponta que a cidade apresenta boa quantidade de estabelecimentos de saúde, no entanto afirma que não há registros de clínicas e residências geriátricas. Além disso, o número de cirurgiões é reduzido.

    Os dois institutos apontam que cidade precisa reduzir os altos índices de hipertensão entre os idosos e aumentar o número de instituições de longa permanência e de condomínios residenciais específicos para a terceira idade. Na prática, os especialistas que se debruçam sobre o desafio, “ainda têm muitas perguntas e poucas respostas”.

    Município sabe pouco sobre seus idosos

    Uma constatação objetiva dos técnicos envolvidos na discussão do tema é que o Município conhece pouco sobre os idosos de hoje e, provavelmente ainda menos, a respeito dos idosos do futuro. Essa é das dificuldades citada pela diretora do Conselho de  Desenvolvimento Econômico de Maringá (Codem), Juliana Franco Afonso.

    Para estabelecer metas e parâmetros para o futuro de setores impontantes da cidade, o Codem criou câmaras técnicas específicas, como a voltada para a saúde, que discute as tendências da área. O envelhecimento da população, como não poderia deixar de ser, é um dos assuntos analisados pelos profissionais envolvidos no trabalho.

    Na visão de Juliana Afonso, conhecer a fundo a realidade dos idosos da cidade é o primeiro passo. “Temos que entender, discutir e levar para o debate essa tendência mundial do envelhecimento populacional. A gente deve pensar o agora para que não ser um problema lá na frente. A primeira coisa é fazer um diagnóstico, prever o futuro e traçar estratégias”.

    Para a diretora do Codem, a cidade tem desafios na área de saúde, lazer, construção civil e de transportes, que precisam ser vencidos para atender melhor os idosos. “A gente tem como desafio oferecer serviços que envolvam essas áreas para melhor atendê-los. A cidade tem esse preparo econômico, mas não quer dizer que não precisamos melhorar”, afirmou.

    Outro problema, apontou Juliana, é a reinserção dos idosos no mercado de trabalho local. Nos últimos seis meses, as pessoas que mais foram demitidas na cidade tinham acima de 55 anos. “Talvez seja necessária uma política pública semelhante à que já temos, de inclusão de pessoas com deficiência no mercado. Seria uma política de inserção de idosos.”

    Segundo Juliana, cabe ao município fazer as avaliações necessárias e perceber quais são os aspectos que devem ser melhorados para Maringá alcançar, por exemplo, os níveis de Santos, no litoral paulista, considerada a cidade mais preparada do país para o envelhecimento da sua população, segundo estudos da FGV.

    Em resumo, Juliana Afonso afirmou: “Eu diria que hoje estamos nos preparando. Dizer o contrário seiria uma informação muito subjetiva. Estamos nos preparando e precisamos nos preparar mais, afinal, se estivéssemos chegado à perfeição. certamente não estaríamos em 18º lugar no ranking brasileiro”.

    Brasil está com a tarefa de casa atrasada

    Já a gerente de Promoção da Mulher Idosa da secretaria municipal da Mulher, Caroline Camotti, entende que “o Brasil está com a tarefa de casa atrasada”, quando o assunto é gestão pública para envelhecimento populacional, bem diferente, por exemplo, do que aconteceu na Europa.

    “O Brasil terá 20 anos para passar por esse processo, com o agravante de ter uma desigualdade social extremamente grande. É um desafio enorme. Nós só conseguimos pensar em situações de emergência e, se permanecermos desse jeito, só vamos continuar enxugando gelo”, afirmou Caroline.

    Segundo ela, a atuação do Município está voltada para projetos que são desenvolvidos em conjunto com outras secretarias. Um deles são os grupos focais, nos quais idosos de bairros da cidade são convidados a discutir as políticas públicas do setor e pensar como eles desejariam perceber essas ações no cotidiano.

    Caroline disse que Maringá tem uma lacuna na qual a questão da terceira idade é vista apenas pelos lados da assistência social e da saúde. Com essa visão, ela avalia que não é possível atender a totalidade dos idosos da cidade: “Não é toda população idosa que conhecemos que emerge da vulnerabilidade”.

    Segundo a gerente, “a população vulnerável, que depende de Benefício de Prestação Continuada e que estão lá na ponta, a gente sabe quem é. Agora, existem famílias que mantêm os idosos em casa. Esses, não sabemos quem são.”

    Outros desafios apontados por são no sentido de criar novas formas de moradia, serviços e equipamentos municipais voltados aos idosos. Para ela, o perfil do idoso mudou. “Ele não é mais aquele que coloca o pijama e fica em casa esperando os dias passarem. Temos que ampliar as formas de cuidado, tanto com políticas públicas quanto nas famílias”.

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