Número de moradores de rua no Terminal Rodoviário de Maringá aumenta e gera sensação de insegurança. Incomodados, comerciantes e funcionários do local reclamam

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A presença de moradores de rua no Terminal Rodoviário de Maringá passou a incomodar passageiros, comerciantes e funcionários do local que temem pela segurança. Relatam que o número de indigentes aumentou nos últimos anos, porém cresceu significativamente há cerca de seis meses, quando um terreno vazio próximo ao terminal virou ponto de encontro de mendigos.

Inicialmente, os moradores de rua ficavam apenas no entorno da rodoviária, mas agora começaram a utilizar um dos cartões postais da cidade para usar o banheiro e dormir mais protegidos do frio e do vento. O fato foi relatado ao Maringá Post por um leitor, que encaminhou a sugestão de pauta pela página do site no Facebook.

Na manhã desta terça (7/8) a reportagem foi conferir. Era 8h30 e o termômetro da rodoviária marcava 13ºC. Passageiros aguardando embarques se encolhiam nos bancos, alguns com cobertas, para se livrar do vento frio que entrava pelas portas. Em um canto no chão, perto dos guichês de passagens, um morador de rua também se retraia envolto em uma coberta fina e suja.

Foi o único indigente que a reportagem encontrou dentro da rodoviária. Os comerciantes e funcionários explicaram que os guardas municipais funcionam como despertador: “Eles chegam de manhã e pedem para que os moradores se levantem”. O homem da coberta fina e suja teve sorte de poder dormir até mais tarde – se é que é possível dizer que alguém em tal situação tem algum naco de sorte.

A funcionária de uma lanchonete disse que não se incomoda com a presença dos moradores de rua.“Eles vêm, fazem amizade com o cliente e conversam, até demais da conta”, disse ela, que depois reconheceu que alguns deles intimidam as pessoas e já chegaram a ameaçar uma colega de trabalho com uma faca. “Queriam apenas um salgado”, justificou.

Para o comerciante que está há mais de 20 anos no terminal, “a situação é caótica, vergonhosa e que traz insegurança”. Porém, ele também ressalvou que não são todos que causam problemas: “A gente não sabe da vida de cada um. Podem ser pessoas necessitadas, que precisam de uma assistência, mas entre eles há sempre alguém que é um batedor de carteira ou tenta se impor com violência.”

Em todo esse tempo com uma loja de eletrônicos no local, o comerciante que pediu para não se identificado, contou que a presença de moradores de rua é uma situação recente na principal porta de entrada da cidade. Para ele, esse cenário é reflexo da crise econômica que o país enfrenta, da falta de assistência governamental e de segurança na rodoviária.”Parece que aqui é mais confortável”, disse.

Para o lojista, essa é uma questão social na qual a prefeitura deve atuar, assim como investir na segurança da rodoviária com a presença mais efetiva da Guarda Municipal. Atualmente, apenas dois guardas fixos cuidam da segurança até as 19h. A partir desse horário, a Guarda Municipal faz ronda apenas no entorno do terminal.

Ele conta que teve o comércio assaltado no mês passado às 3 horas da tarde, quando a Guarda deveria estar presente. Para o comerciante, segurança privada não seria viável no local, já que a rodoviária é um espaço público. “Estamos dentro de um prédio público. É a mesma coisa de estarmos no Fórum ou na Câmara Municipal”, comparou.

O funcionário de uma agência de passagens trabalha durante toda a noite, quando não existe segurança fixa na rodoviária. Contou que antes os guardas se revezavam e ficavam  dia e noite no local. Com poucos guichês de passagens abertos durante a madruga e sem a presença da Guarda Municipal, ele disse que se sente inseguro.

O funcionário afirma que cerca de 10 mendigos são fixos na rodoviária. Alguns, vivem há mais de um ano nas proximidades e intimidam passageiros, principalmente idosos, pedindo dinheiro. Segundo ele, no mês passado um morador de rua chegou a enforcar uma mulher que sacava dinheiro no caixa eletrônico. “O marido dela bateu no morador, mas que ninguém registrou Boletim de Ocorrência”, disse.

“Na época do calor os moradores de rua ficavam assistindo televisão a noite toda e pedindo dinheiro. O pessoal que chega à noite na cidade fica com medo e a gente acaba passando a madrugada toda ali. Às vezes eu circulo, falo para deixar as pessoas em paz, mas a gente não pode estar se impondo, não somos autoridade”, disse.

Gerente faz o possível e diz que reforma vai ajudar

Os comerciantes e funcionários dizem que a “síndica”, como chamam a gerente do Terminal Rodoviário de Maringá, Elenir da Silva Bezerra, tenta fazer o que é possível. Eles contam que ela mesma chega a conversar com os moradores, quando percebe que não há perigo.

Elenir disse os moradores de rua são atraídos à região da rodoviária por um terreno baldio localizado na esquina do terminal, no cruzamento das avenidas Centenário e Tuiuti. Anteriormente, o local era uma garagem de carros, mas agora está desocupado e serve de moradia para quem não tem para onde ir.

Na manhã desta terça-feira, cinco pessoas estavam no terreno a que se referiu a gerente do terminal. Foi possível observar alguns indícios de que o local serve de moradia improvisada, com cobertas, cadeiras, carrinhos de reciclagem e outros objetos.

Terreno fica na esquina da Avenida Tuiuti com Avenida Centenário (Imagem/Murillo Saldanha)

Elenir disse que os moradores só entram na rodoviária quando chove, quando as temperaturas caem ou para usar os banheiros. A gerente observou que quando eles não estão incomodando, não podem ser expulsos. “É um ser humano. Eles vem para cá e não vamos dizer: ‘Não, vão para a chuva'”.

Ela disse que não sabe precisar quantos moradores de rua utilizam a rodoviária, mas comerciantes afirmam que já chegaram a contar mais de 20 pessoas no terreno vazio.

A gerente afirmou que o terminal “não é seguro por ser aberto”. Acrescentou que, com a reforma, “a segurança vai melhorar”. Depois de concluída, o passageiro só poderá entrar na área de embarque se estiver com a passagem e um sistema de câmeras de segurança será instalado na rodoviária.

Segundo  Elenir Bezerra, o projeto está em fase de planejamento arquitetônico e depois deve ser licitado. A previsão é que as obras comecem até o final do ano.

Ela contou que muitas pessoas que ficam na rodoviária só querem uma passagem ou ajuda para chegarem no destino final. Acrescentou que a prefeitura tem feito o trabalho de abordagem e que um carro passa até três vezes por dia no local para encaminhar os moradores para albergues.

Outra ação desenvolvida na área é feita pela equipe de tratamento de dependências químicas. Porém, não são todos que aceitam ajuda. “A gente vive situações difíceis. Tem gente que quer que os moradores de rua sejam escondidos da sociedade. Mas ao mesmo tempo que temos que cuidar do local, a gente também tem que cuidar do ser humano”, observou.

Secretário diz que segurança noturna será retomada

O secretário municipal de Segurança Pública e responsável pela Guarda Municipal, o tenente-coronel Antonio Roberto dos Anjos Padilha, afirmou que atualmente cerca de 40 guardas estão passando por treinamento e que, após o encerramento do curso, no final de agosto, os guardas voltarão a fazer a segurança noturna na rodoviária.

Ele disse que, pela ótica da segurança pública, a rodoviária é um local vulnerável. “Tem um trânsito muito grande de passageiros e de moradores de rua e ali ocorrem pequenos delitos. A rodoviária tem uma característica diferente do aeroporto, as pessoas utilizam  dinheiro vivo e isso propicia a atuação de marginais, que observam o descuido de alguns”, comentou.

O secretário afirmou que mesmo sem segurança fixa na rodoviária no período noturno, os guardas fazem ronda no entorno do local. Acrescentou que o Município, atualmente com 126 Guardas Municipais e 500 postos de serviços, não é o único responsável pela segurança do terminal.

“Solicitei algumas vezes a presença da Polícia Militar, mas eles não tem condições de ter um posto fixo ali. O Município está fazendo a parte dele na segurança pública, mas a responsabilidade primária é do Estado”, afirmou o ex-comandante da PM de Maringá.


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