Não é novidade que mercado de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) está em alta, no entanto, os números apontam uma baixa participação de mulheres no segmento. Das 565 pessoas que participaram do Ticnova, evento realizado pela associação das empresa de TI de Maringá e região em 2017, apenas 83, cerca de 14,7%, eram mulheres.
A pequena presença feminina não se restringiu à plateia. Entre os 27 palestrantes, tinham apenas duas mulheres. Já em outro evento, este realizado pelo Departamento de Informática da Universidade Estadual de Maringá (UEM), dos 44 palestrantes, oito eram mulheres. E dos 283 participantes, apenas 40 não eram do sexo masculino.
Esses exemplos práticos contribuíram na motivação de um grupo de profissionais a desenvolver um estudo e traçar o perfil feminino na área de Tecnologia da Informação e Comunicação em Maringá, que tem 308 empresas e emprega 3.072 pessoas. O primeiro passo foi a realização de uma pesquisa.
A aplicação do questionário foi feita junto a 33 mulheres, sendo 13 profissionais da UEM e 20 da DB1 Global Software, empresa de tecnologia que fez parte dos trabalhos. As respostas do questionário revelam algumas situações interessantes, como:
- A maioria das profissionais, cerca de 81,3%, tem formação superior. Dessas, 27,35% têm doutorado e 6% mestrado.
- Há mais mulheres na academia do que na empresa pesquisada. Na UEM, entre os 32 professores, 31,25% são mulheres, enquanto na empresa apenas 17,29% dos 214 colaboradores são do sexo feminino.
- Apesar de não serem maioria no mercado de TIC, as mulheres estão em todos os cargos analisados. Cerca de 28% são professoras e pesquisadoras, seguido por analista de teste (25%) e programadora full-stack (13%).
A professora do Departamento de Informática da UEM e uma das organizadoras do estudo, Luciana Martimiano, explica que os resultados são apenas uma amostragem e que o objetivo é expandir a pesquisa. Apesar da maioria das mulheres entrevistadas estar no campo acadêmico, ela acredita que a quantidade nas empresas é maior.
“Talvez a gente tenha mais mulheres nas empresas do que na academia. Todas as professoras que responderam equivalem a cerca de 25% do Departamento de Informática e isso tem diminuído. No último concurso foram quatro professores contratados e desses apenas um era mulher. A gente está diminuindo na academia e na graduação”, afirma.
Mulheres mais velhas não sofreram preconceito
Quando se formou em Ciência da Computação na UEM, a turma de Luciana era composta metade por mulheres e metade por homens. Hoje, os cursos de Informática e Ciência da Computação da UEM tem em média 8% de alunas mulheres. Entre vários fatores, Luciana acredita que o esteriótipo e o preconceito afastam as mulheres da área.
Entre as entrevistadas, 17 mulheres (51,5%) responderam que não sofreram assédio e que não sentiram preconceito de gênero no ambiente de trabalho. Por outro lado, 16 mulheres (48,5%) disseram ter sofrido algum tipo de assédio e responderam que já sentiram preconceito de gênero no trabalho.
Os resultados da pesquisa também mostram que mulheres mais velhas e com mais tempo de atuação sofreram menos assédio e preconceito. A maioria das mulheres com 40 anos ou mais respondeu não ter sofrido preconceito enquanto 63,6% das mulheres entre 16 e 39 anos respondeu ter sofrido.
A professora conta que frases como “Até que para uma mulher você programa muito bem” e “você é muito bonita para ser uma programadora” são comuns no cotidiano de algumas profissionais da área. “Existe o esteriótipo de que computação e cursos ciêncas exatas são para meninos. Esse esteriótipo começa desde que somos crianças”, afirma.
Luciana Martimiano e outra professora coordenam o grupo Conectadas, ligado ao programa Meninas Digitais da Sociedade Brasileira de Computação, no qual cerca de 12 alunas dos cursos de graduação e mestrado da UEM estudam, já há algum tempo, a participação das profissionais no mercado de trabalho.
Um dos objetivos da equipe é tentar romper esses esteriótipos preconceituosos e mostrar às meninas, desde o ensino fundamental, que “a computação é uma área legal e que elas podem sim escolher como profissão”. Para Luciana, é importante que os homens também se envolvam na discussão.
“A gente não é contra os homens, somos a favor de que todas as pessoas possam cooperar e trabalhar de maneira cooperativa dentro da área de computação. É importante a participação dos homens e o fato de discutirmos acaba abrindo os olhos para preconceitos que acontecem”, observa.
Mulheres mais novas não se acham competentes
Luciana afirma que durante a análise dos dados, o que mais chamou atenção foi a percepção de competência. Entre as 20 mulheres a partir dos 31 anos de idade, 70% responderam nunca ter deixado de enviar um currículo por se acharem incompetentes. No entanto, das 13 mulheres entre 16 e 30 anos, 69,2% não o fizeram por se acharem inaptas.
Apesar da insegurança, algumas profissionais se destacam no segmento de TI em Maringá e região. Regina Acutu, por exemplo, é diretora da Paraleloz, empresa que atua nos mercados de comunicação. Ela entrou na área de TI háa apenas dois anos, provando que a diversidade de gênero é essencial para inovação.
A Software By Maringá, que reúne mais de cem empresas de software, também é comandada por uma mulher, Rafaela Campos. Ela é vice-presidente da aceleradora EVOA, diretora do Instituto Cultural Ingá, Presidente da Câmara TIC e diretora de fomento da Noroeste Garantias.
- Os resultados completos da pesquisa estão disponíveis no artigo de Martimiano et al. (2018). Martimiano, L. A. F., Lima, N. V., Feltrim, V. D., Roder, L. B.; Um estrato do perfil das profissionais de TIC na cidade de Maringá-PR. Anais do XXXVIII Congresso da Sociedade Brasileira de Computação (CSBC), 12º Women in Information Technology (WIT). Julho. Natal-RN. 2018.
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