Imigrantes da Nigéria, Venezuela, Síria, Haiti e Guiné-Bissau que vivem em Maringá contam suas emocionantes histórias para marcar o Dia Mundial dos Refugiados

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Ele ainda era um menino, quando um grupo de terroristas nigerianos invadiu sua casa. Em seguida, seu pai foi brutalmente assassinado com um profundo corte de faca no pescoço. Enquanto ele via tudo, estarrecido, outro terrorista do bando que estava ao seu lado usou o capacete para lhe desferir um forte golpe na cabeça.

Desacordado, o menino foi jogado em um buraco e enterrado. Alguns dias depois, que ele não sabe dizer quantos, a avó e a irmã o acharam enterrado, ainda vivo. Hoje, o menino é um homem, casado com uma brasileira, pai e mora em Maringá, assim como outros 5.565 imigrantes, segundo dados da Polícia Federal.

Sob anonimato, a história do menino da Nigéria e de outros quatro imigrantes da Venezuela, Síria, Haiti e Guiné-Bissau, todos residentes na cidade, estão sendo contadas no Shopping Avenida Center, em uma ação chamada Sua voz, minha cadeira, nosso refúgio”, para marcar o Dia Mundial do Refugiado.

A auxiliar de cozinha Meirelen Albuquerque, que nesta quinta-feira (21/6) passava pelo shopping, decidiu se sentar para ouvir alguns depoimentos, gravados, e se emocionou. “Me sentei na cadeira por curiosidade, mas escutar o depoimento me fez sentir uma realidade, a dos imigrantes, que um jornal de televisão não conseguiria me passar”.

Outro depoimento ouvido por Meirelen, tocante, foi de uma jovem venezuelana, que participava de um grupo de luta por condições dignas no seu país. Um dia, porém, foi presa sem qualquer possibilidade de defesa ou julgamento. Dos seis jovens do seu grupo, quatro foram mortos antes mesmo de chegar na cadeia.

Na prisão, ela foi torturada e estuprada durante um ano, até que um dia a libertaram. Mas quando chegou em casa, lá estavam os soldados novamente, atrás dela, que conseguiu fugir e buscar ajuda. Uma pessoa de São Paulo, que lhe indicaram, enviou a passagem e  promessas de emprego. A garota chegou em São Paulo certa de que recomeçaria a vida.

Mas chegando em São Paulo o homem que tinha prometido ajuda, a trancou em um apartamento e a fez passar pelos mais diversos tipos de violência, inclusive sexual. Com auxílio de um contato na Venezuela, a jovem foi resgatada. Hoje, ela também mora em Maringá, onde faz um curso universitário.

A ação para celebrar o Dia Mundial do Refugiado é promovido pela Associação dos Estrangeiros Residentes na Região Metropolitana de Maringá (Aerm), que convida os interessados a se colocarem no lugar de imigrantes reais, que vivem em Maringá, e ouvir suas histórias de vida e o que os fizeram chegar até aqui.

O atendimento no stand no Avenida Center é feito por Maria Rangel, uma jovem  venezuelana, que não tendo mais condições de continuar em seu país, veio ao encontro de seu irmão, que há um ano mora em Maringá. Ela explica que o objetivo da ação é “gerar empatia e fazer as pessoas saírem da sua zona de conforto e sentarem na cadeira do refugiado”.

O presidente da Aerm, Erick Perez, explica que por meio da assistência psicológica que é dada pela a associação, foi possível fazer todo esse processo de gravação das histórias, de uma forma responsável: “As histórias que foram selecionadas eram vozes que precisavam ser ouvidas”.

Alexandra Staudt, coordenadora de marketing do shopping, disse que “a imigração é um tema muito atual e de relevância mundial. Sabemos como a imigração foi importante para a nossa história e estamos proporcionando aos nossos clientes a possibilidade de vivenciar uma realidade diferente”.

Ação “Sua voz, minha cadeira, nosso refúgio”
Data: 20 a 25 de junho
Horário: das 12h às 20h
Local: Shopping Avenida Center, passarela, ala laranja. Av. São Paulo, 743.


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