Não consigo mais caminhar pela Vila Operária sem ficar olhando pra cima. A impressão é que há um novo edifício residencial em cada esquina, alguns com gente morando, outros com operários trabalhando. Não era assim. Até pouco tempo atrás, o que me chamava a atenção eram as casas em tábuas de peroba e grandes quintais, com flores e frutas.
Os números da secretaria de Planejamento confirmam a sensação de que a Zona 3 está mesmo se vestindo com longas paredes verticais de concreto. Desde 1º de janeiro de 2013 até o dia 20 de junho deste ano, foram iniciadas 224 construções de condomínios verticais em toda a cidade. Algumas obras já foram concluídas e outras estão em execução.
Pois bem, cerca de 10% desse total de edifícios residenciais e mistos ficam no pequeno semicírculo desenhado pelo Parque do Ingá e as avenidas Mauá e Laguna. É muito prédio, que está trazendo carros demais para as ruas estreitas da região. Dos 24 condomínios autorizados para serem construídos na área, 11 foram ocupados e 13 estão em obras.
Apenas um deles, que está sendo erguido na Laguna, terá 23 andares. Antes, o terreno de 1,4 mil m² era ocupado por três casas. Logo, serão 34 apartamentos, 34 famílias. Mais um pouco de números: só nos 170 metros da Rua Marcílio Dias, entre as ruas Vidal de Negreiros e Henrique Dias, são três prédios residenciais em construção.
O Plaza del Sol, na esquina com a Vidal de Negreiros, está com a fachada sendo pastilhada de branco e bordô. Tem 20 andares, 66 apartamentos e churrasqueira na varanda. Outro, o Park Tower, no meio da quadra, está com as 23 lajes dos 36 apartamentos aparentes. E o terceiro, na esquina com a Henrique Dias, ainda se esconde atrás de tapumes vermelhos.
Mas o relatório da Seplan revela que se trata do Platinum Liberdade, que terá 22 andares e 72 apartamentos. Esses três empreendimentos vão se somar aos outros cinco que já existem no pequeno trecho pinçado para ilustrar o acelerado processo de verticalização da Zona 3. Aliás, a escolha não foi ao acaso: o Maringá Post acabou de mudar para a rua.
“A Zona 3 está se tornando um bairro residencial nobre”, diz Sérgio Bacarin, empresário do agronegócio, enquanto aguardava, em uma mesa na calçada, ripas de costelinha assada, especialidade de um famoso boteco do bairro, onde estava com um amigo. Em breve ele se mudará para um prédio que está quase pronto, na Avenida Paissandú, e faz um alerta:
– A prefeitura tem que tomar alguma providência para impedir que fique um prédio colado no outro, como ocorreu no Novo Centro.
Não vai ser fácil e talvez seja tarde demais para os 70 quarteirões da Zona 3, a grande maioria dividido em 22 terrenos com cerca de 700 m² cada. O amigo de Bacarin, Rui Folleto, que é dono de imobiliária, entra no papo:
– Depois do Novo Centro e da Zona 7, a Zona 3 é a nova fronteira da verticalização de Maringá. As construtoras passaram a investir em empreendimentos no entorno do Parque do Ingá. Acho que não tem volta.
Apesar do aparente paradoxo, os dois velhos amigos têm lá suas boas doses de razão. Se por um lado a verticalização das grandes e médias cidades seja uma tendência irreversível, é preciso cuidado para evitar situações extremas como a do Novo Centro de Maringá, onde o sol praticamente já não tem vez e o trânsito, em determinados horários, não transita.
Os artigos acadêmicos sobre a verticalização das cidades, disponíveis na internet, apontam perdas importantes na qualidade de vida quando há o descontrole nos processos ditados apenas pelos interesses do mercado imobiliário. Impactos como a redução de área permeável e o aumento de escapamentos cuspindo monóxido de carbono não ajudam.
Sem contar outros tipos de poluição ambiental, como a difusa, que no caso tende a levar resíduos químicos de tinta para o lago do Parque do Ingá, justamente a área de preservação que dá charme à Zona 3 e tanto seduz o mercado. Mas há resistências. Um antigo morador do bairro, não quis dar entrevistas, mas mandou um recado:
– Fala para as imobiliárias e as construtoras pararem de me ligar. Não aguento mais. Minha casa eu não vendo e não troco.
Outra zona fiscal que está cada vez mais abarrotada de condomínios verticais é a 7. A região concentra o maior número de projetos aprovados, alvarás concedidos e habites emitidos pela prefeitura de Maringá nos últimos cinco anos e meio. Aliás, não se chama mais habites, o nome agora é CerConEd – Certificação de Conclusão da Edificação.
Das 224 construções, 68 ficam na Zona 7, que é ao menos três vezes maior que a Z3, o que não quer dizer que também não mereça atenção. Mas esse já é outro capítulo da história, que espera-se, tome novos rumos e tenha um final mais feliz com as prometidas e significativas intervenções que hão de vir em um futuro próximo.
O sinal verde de esperança se acendeu há duas semanas, com a criação do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Maringá. O arquiteto e urbanista Celso Saito, presidente do Ipplam, diz que no momento o trabalho é de buscar informações junto às secretarias municipais e entidades de classe, para o desenvolvimento de estudos.
A exemplo de institutos similares como o de Curitiba, Saito aponta “a necessidade de controle do crescimento da cidade a longo prazo”. As primeiras iniciativas deverão ser no sentido de revisar o Plano Diretor de Maringá e a Lei de Uso e Ocupação do Solo, assim como promover análises de impactos de vizinhança. Já não era sem tempo.
Mas por enquanto, caminhar olhando pra cima na Zona 3 é assumir o perigoso risco de sujar o All Star. Com o aumento de apartamentos, passou a ser rotineiro nos finais de tarde peludinhos bem cuidados passeando com coleiras e guias coloridas nas calçadas. E nem todos os donos têm o educado hábito de levar os providenciais saquinhos plásticos.
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