Ele ia fazer 47 anos dali a poucos dias, mas… Na segunda semana de maio deste ano, foi até a casa da ex-mulher, de quem estava separado há cerca de dois meses, atirou uma corda por cima de um dos caibros de sustentação do telhado da varanda de frente para a rua, entrelaçou o pescoço e, assim, deu seus últimos suspiros.
Um adolescente, revoltado por não ter passado à próxima fase de um dos jogos virtuais que ‘enlouquecem’ crianças e jovens, saltou da sacada do apartamento do oitavo andar de um edifício no centro de Maringá. A queda foi amortecida pela copa de uma palmeira e o garoto, nessas raras fatalidades que chamam de sorte, sofreu apenas fraturas e cortes.
Casos com resultados semelhantes a esses dois, com morte ou sobrevivência a uma tentativa de suicídio, pode-se afirmar que, na média, ocorrem mais de uma vez por dia em Maringá. Até 23 de maio último, com 143 dias transcorridos no ano, haviam sido notificados 200 tentativas de acabar com a própria vida e 12 suicídios.
O enforcamento foi a forma usada por metade das 12 pessoas que se mataram este ano na cidade e, nos outros seis, em dois deles as vítimas se jogaram de algum prédio. São raríssimos os casos de sobrevivência de quem se precipita de grandes altitudes, como ocorreu com o adolescente. A família não se dispôs a falar, apenas avisou que ele está bem.
Pendurar-se pelo pescoço na ponta de uma corda tem sido o método mais utilizado para suicídios em Maringá desde 2009. Desde aquele ano até o dia 23 de maio, das 176 mortes notificadas à Gerência de Epidemiologias da secretaria municipal de Saúde, 124 foram por enforcamento, 14 por precipitação de lugar elevado e 10 por arma de fogo.
Os números foram fornecidos mediante pedido do Maringá Post para a Gerência de Epidemiologias, que desde 2009 faz o controle estatístico das tentativas de suicídio, suicídios e lesões autoprovocadas, mas apenas a partir de 2011 as notificações das ocorrências se tornaram legalmente obrigatórias.
Mesmo assim, sabe-se que há omissões e, segundo a doutoranda Raquel Pinheiro Niehues Antoniassi, fundadora do Comitê de Prevenção e Posvenção do Suicídio e coordenadora do programa de capacitação em medidas prevenção e posvenção do suicídio da rede pública de saúde, “os números podem ser dez vezes maiores”. (Leia entrevista abaixo)
É de conhecimento público que existe um grande tabu, inclusive por parte dos veículos de comunicação de massa, sobre a divulgação das ocorrências de suicídio, tentativas e autolesões. As exceções que chegam ao conhecimento público, quase sempre, são de famosos, como Walmor Chagas (2013) e Robin Williams (2014).
As justificativas para não propagar as ocorrências passam por questões morais, para preservar a memória da vítima e poupar familiares. Aspectos éticos também compõem a decisão de publicar ou não. A preocupação é não incentivar atos tão extremos que, dizem, às vezes são cometidos para atrair atenção. Essa, talvez, tenha sido a intenção do homem que se matou na casa da ex, o que a deixou com enorme sensação de culpa.
São argumentos plausíveis, mas que não devem impedir a divulgação de informações que auxiliam e promovem debates sobre o suicídio, que passou a ser caso de saúde pública. Profissionais que atuam na área entendem que a propagação de dados, quando despida de sensacionalismo, pode sim contribuir à prevenção. Afinal, os números são alarmantes.
No ano passado, por exemplo, foram 575 notificações de lesões autoprovocadas, 484 tentativas de suicídio e 27 óbitos – desses, 21 foram por enforcamento. São os números mais altos já registrados na série histórica de Maringá, mas a realidade deve ter sido ainda pior. A maioria dos suicídios notificados, 20 deles, foi cometido por homens de 20 a 34 anos.
No Brasil, a média de 2016 foi de 30 suicídios por dia, ou seja, a cada 40 minutos uma pessoa deu cabo à própria vida. Segundo estudo da Organização Mundial de Saúde (OMS), em 172 países o suicídio está entre as três principais causas de morte de pessoas entre 15 a 44 anos. Isso, mesmo com os registros, em boa parte dos países, serem imprecisos.
Já o perfil básico das pessoas residentes em Maringá que no ano passado tentaram, mas não consumaram o suposto objetivo de morte, difere em relação ao sexo e ao método: dois terços foram mulheres e a forma mais usual foi intoxicação. A faixa etária predominante é a mesma dos homens que se mataram. Elas também têm de 20 a 34 anos.
Para falar sobre as causas e analisar os números obtidos na Gerência de Epidemiologias, foram enviadas perguntas para a especialista no tema da secretaria de Saúde de Maringá, a psicóloga Raquel Pinheiro Niehues Antoniassi, que entre outros trabalhos se dedica ao treinamento dos servidores para a identificação e tratamento de comportamentos suicidas.
Raquel, que é especializada em Saúde Mental na Atenção Primária pela Escola de Saúde Pública do Paraná e mestre em Psicologia Clínica – Núcleo de Psicossomática e Psicologia Hospitalar – pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, também coordena a implantação do Centro de Valorização da Vida (CVV – ligue 141), em Maringá.
Na entrevista, ela explica porque os números reais podem ser muitas vezes maiores do que os notificados, discorre sobre as múltiplos fatores predisponentes e precipitantes do suicídio, alerta familiares e amigos de que é possível identificar sinais de comportamento e, o mais importante, sugere uma série de dicas de prevenção.
Especialista: números podem ser 10 vezes maiores
Maringá Post – Diante dos números que nos foram enviados, constatamos que homens, de 20 a 34 anos, são os que mais cometem suicídio, boa parte por enforcamento. Por outro lado, as mulheres são as que mais tentam se matar, somam mais de dois terços do total de notificações. Mas são as que menos se suicidam. A faixa etária se repete, de 20 a 34 anos. Existem explicações com base científica que explicam essas ocorrências?
Raquel Pinheiro Niehues Antoniassi – Segundo as pesquisas a respeito do suicídio, as taxas de morte por suicídio ocorrem mais entre os homens do que entre as mulheres que, por sua vez, têm uma maior taxa de tentativas de suicídio que os homens.
Isto se deve, dentre diversos outros fatores, ao uso de meios mais letais entre os homens, uma vez que este tende a ter um comportamento mais impulsivo, enquanto as mulheres tendem a ter esse comportamento com menos frequência, assim como elas costumam preocupar-se mais com a reação da pessoa que venha a lhe encontrar após a morte, por exemplo, os filhos.
A faixa etária dos 20 aos 34 anos corresponde a fase adulta-jovem, na qual, de um modo geral, as pessoas estão passando por uma fase de transição de estudo para trabalho. As cobranças e expectativas em relação a este período são muito grandes quanto a ser bem sucedido.
No entanto, as características típicas do contexto pós-moderno, de relações instáveis, imediatismo, relacionamentos virtuais mais constantes do que os reais e presenciais, cobrança de sucesso, intolerância a frustração, falta de rede de suporte social e familiar considerados como adequados, podem contribuir negativamente para a instalação de sofrimento muito intenso, transtornos mentais e, consequentemente, comportamento suicida.
Observo que denominamos comportamento suicida desde a ideação suicida, plano de suicídio e ato suicida.
Ressalto ainda que nem todo sofrimento é necessariamente sintoma de um transtorno mental. Porém, deve ser avaliado com cuidado e atenção por profissional que possa oferecer o melhor cuidado possível àquele que sofre, inclusive podendo ajudá-lo a organizar uma rede de apoio que lhe seja saudável e, portanto, fator de proteção contra o suicídio.
MP – Quando se ouve falar de alguém que cometeu suicídio, as pessoas logo querem saber as razões que levaram a ato tão extremo. O que dizem os estudos mais recentes sobre os motivos que levam ao suicídio? E os que levam às tentativas de suicídio? São coisas diferentes ou não?
Raquel Antoniassi – Não podemos pensar que o comportamento de uma pessoa que faz tentativa de suicídio é diferente de uma pessoa que morre por suicídio. Ambos os comportamentos fazem parte do que denominamos comportamento suicida e, de qualquer modo, a tentativa é um grande fator de risco para o suicídio propriamente dito.
Pensar que ambos comportamentos são diferentes é um grande mito que, inclusive, pode ser impeditivo de ações de acolhimento, tratamento e, consequentemente, prevenção do suicídio.
Diversos fatores podem impedir a detecção precoce e, consequentemente, a prevenção do suicídio. O estigma e o tabu relacionados ao assunto são aspectos importantes.
Tal tabu, assim como a dificuldade em buscar ajuda, a falta de conhecimento e de atenção sobre o assunto por parte dos profissionais de saúde e a ideia errônea de que o comportamento suicida não é um evento frequente condicionam barreiras para a prevenção.
Erros e preconceitos vêm sendo historicamente repetidos, contribuindo para formação de um estigma em torno da doença mental e do comportamento suicida.
O estigma resulta de um processo em que pessoas são levadas a se sentirem envergonhadas, excluídas e discriminadas e, consequentemente, não conseguir, muitas vezes, buscar ajuda, tanto de amigos e familiares quanto de profissionais da saúde, para lidar com a situação de sofrimento que vivencia.
O suicídio é um comportamento com determinantes multifatoriais e resultado de uma complexa interação de fatores psicológicos e biológicos, inclusive genéticos, culturais e socioambientais.
Dessa forma, deve ser considerado como o desfecho de uma série de fatores que se acumulam na história do indivíduo, não podendo ser considerado de forma causal e simplista apenas a determinados acontecimentos pontuais da vida do sujeito. É a consequência final de um processo.
Existem dois tipos de fatores que podem contribuir para o suicídio: fatores predisponentes e fatores precipitantes. Fatores predisponentes são todos aqueles que são distantes em relação ao ato suicida, ou seja, que fazem parte da história da pessoa, suas características de personalidade, suas relações sociais e familiares, suas experiências anteriores e outros.
Fatores precipitantes são aqueles que são próximos ao ato suicida e que, ao causar um sofrimento muito intenso, que é considerado pela pessoa como intolerável, interminável e inescapável, que chamamos de 3is, podem levá-la ao comportamento suicida.
Não há comportamento suicida sem que ambos os fatores, predisponentes e precipitantes, estejam articulados de alguma forma para fazer sentido para a pessoa que ela cometa o suicídio como forma de escapar de tal sofrimento.
Ou seja, nem todas as pessoas que sofrem bullying, por exemplo, têm comportamento suicida, assim como nem todas as pessoas que têm uma grande perda financeira apresentam comportamento suicida.
Isto somente ocorrerá se o fator precipitante, qualquer evento agudo que cause sofrimento com as características dos 3is, juntar-se a possíveis fatores predisponentes também presentes na história de vida da pessoa.
Por sua vez, os fatores que protegem contra o suicídio são, sem surpresa alguma, aqueles que conduzem a uma vida mais saudável e produtiva, com maior sensação de bem-estar.
Fazem, ou deveriam fazer, parte do normal e, de modo geral, relacionam-se às habilidades cognitivas e de resiliência, à flexibilidade emocional e à integração social.
(Veja tabela com principais fatores predisponentes e precipitantes ao final da entrevista)
MP – É possível identificar sinais ou tendências suicidas?
Raquel Antoniassi – Sim, é possível identificar os fatores de risco e sinais de alerta para o risco de suicídio e saber sobre tais aspectos constitui-se uma das mais potentes ações de prevenção do suicídio, em nível secundário e terciário, que temos disponível.
O reconhecimento dos fatores de risco e dos fatores protetores é fundamental e pode ajudar o profissional de saúde a determinar clinicamente o risco e, a partir desta determinação, estabelecer estratégias para reduzi-lo.
Ao identificar os fatores de risco dentro da história de uma pessoa, é importante avaliar a presença de possíveis sinais de alerta de que tal risco possa ser iminente, os quais podem ser verbais ou não verbais.
A maioria das pessoas com idéias de morte comunica seus pensamentos e intenções suicidas. Elas, frequentemente, dão sinais e fazem comentários sobre “querer morrer”, “sentimento de não valer pra nada” e assim por diante.
Nenhum desses pedidos podem ser ignorados. Quando não conseguem verbalizar, por qualquer que seja o motivo, podem demonstrar comportamentos que também devem ser considerados, como alteração brusca de comportamento, isolamento social e dificuldade de manter sua rotina, por exemplo.
MP – Por que se diz que suicídios, tentativas e lesões autoprovocadas se tornaram caso de saúde pública?
Raquel Antoniassi – É considerado problema de saúde pública toda questão de saúde que esteja relacionada a elementos como: anos potenciais de vida perdido, dor, desconforto, impacto na família, impacto na sociedade e potencial epidêmico. Pontos esses que fazem governos e organismos internacionais colocarem o suicídio no patamar de problema de saúde pública.
MP – Os números de Maringá, na sua avaliação, indicam um aumento nos casos de suicídio?
Raquel Antoniassi – Sim e não. Precisamos pensar dois fatores importantes. Primeiro que desde 2011 tornou-se obrigatória as notificações de casos de violência, dentre eles os casos de violência autoprovocada, como é considerado o comportamento suicida.
Deste modo, necessariamente haverá um aumento dos casos, já que a melhora no sistema de notificações é um importante aspecto da prevenção, que deve ocorrer, mas que, por sua vez, desmascara um fenômeno até então silenciado e mascarado pela subnotificação.
Esses número que você teve acesso são provenientes daqueles que estão sendo notificados pelos serviços devido esta obrigatoriedade.
No entanto, não podemos desconsiderar que há, sim, decorrente da multifatorialidade respondida lá nas primeiras questões, um aumento dos números de casos, sugerindo cada vez mais a importância de não mais silenciarmos a questão do suicídio, mas sim a de evidenciarmos, para podermos, ao identificá-lo enquanto um problema importante, mobilizarmos todos os recursos possíveis para preveni-lo.
Assim, o aumento de caso aliado também ao aumento das notificações, faz com que tais números tenham a expressividade que temos encontrado na realidade de Maringá.
Por exemplo, de 2016 para 2017 tivemos um aumento expressivo dos números de tentativas, o que, com toda certeza, também tem muito a ver com a capacitação pela qual os serviços de saúde passaram, ação realizada pelo nosso comitê, uma vez que os dados epidemiológicos e as notificações dos casos foram um dos temas abordados ao longo do trabalho.
Muitos serviços passaram a notificar com mais frequência as ocorrências, o que antes da capacitação não era feito.
MP – Esses números são absolutamente confiáveis? Como as notificações são feitas? Por quem? Penso que nos casos de morte, os registros fiquem muito próximos da realidade, no entanto tenho dúvidas sobre as outras duas situações, já que, imagino, o registro depende de atendimento médico, por exemplo.
Raquel Antoniassi – Tais números nunca são absolutamente confiáveis devido ainda a subnotificação. Os dados epidemiológicos da tentativa de suicídio são formulados a partir da notificação dos casos por meio da ficha do Sistema de Notificação de Casos de Violência, o Sinan.
São realizadas pelos serviços públicos ou particulares, quando detectam tais ocorrências. Por ser um serviço relativamente burocrático, ainda vemos muitos serviços que não realizam a notificação, de modo que pesquisas sugerem que os dados divulgados pelo Sinan podem ser até dez vezes maiores do que o que efetivamente é divulgado.
Quanto aos óbitos por suicídio, o mesmo também se aplica por diversos motivos. A notificação do óbito por suicídio apenas acontece através dos cartórios ao receber as certidões de óbito, de modo que apenas as certidões que constarem com todas as letras que foi suicídio entrarão para esta estatística.
Isto, por sua vez, também acarreta em subnotificação, uma vez que muitas situações não são esclarecidas nas certidões, como, por exemplo, médicos que não se sentem a vontade para colocar a palavra suicídio e usam termos como: falência múltipla dos órgãos, lesão cervical, queda de altura, acidente automobilístico, que não tem como provar que não foi intencional, entre outros.
MP – Antes de 2009, quem fazia os controles estatísticos?
Como te falei antes, apenas desde 2011 a notificação passou a ser obrigatória, de modo que os dados anteriores a este período vêm da mesma fonte, porém daquelas que eram realizadas voluntariamente. Se hoje, que é obrigatório, ainda temos subnotificação, imagina antes disso.
MP – O que se pode fazer e o que se tem feito em Maringá para evitar ou prevenir ocorrências de suicídio, tentativa e autolesão?
Vamos lá… Acho que esta é uma das perguntas mais importantes da reportagem e que faz parte das recomendações da Organização Mundial de Saúde à mídia sobre como abordar a temática do suicídio de forma adequada.
Em Maringá, desde 2015, temos o Comitê de Prevenção e Posvenção do Suicídio da Secretaria Municipal de Saúde, cujo objetivo principal é a formulação e articulação de políticas públicas municipais de prevenção e posvenção do suicídio.
Como primeira iniciativa do comitê, foram realizadas várias turmas de capacitação em medidas de prevenção e posvenção do suicídio, onde cerca de 800 funcionários da rede municipal de saúde e outras secretarias passaram pelo curso para aprender a realizar de modo adequado a avaliação e manejo do risco de suicídio.
Entendemos que essa deveria ser a primeira ação por entender que nenhuma ação direta à comunidade seria efetiva sem que as nossas equipes de saúde tivessem o preparo teórico e técnico adequados para acolher da melhor maneira possível essa demanda, quando a mesma começasse a surgir com mais frequência nos serviços, o que certamente ocorreria a partir das ações diretas na comunidade.
A partir desta capacitação, foi criado um fluxo de atendimento específico para o manejo clínico dos casos de comportamento suicida para garantir que os casos identificados como de risco para suicídio pudessem ser acolhidos pela rede e referenciados aos serviços necessários para o acompanhamento e tratamento necessários.
Além disso, temos parcerias com os serviços do Corpo de Bombeiros, UPAs, Emergência Psiquiátrica, HU e outros de urgência e emergência que têm notificado o nosso comitê para busca ativa dos casos que chegaram a esses serviços com a demanda de comportamento suicida para que possamos garantir que os mesmos cheguem aos serviços de saúde e obtenham a ajuda necessária.
Em Maringá, temos 35 Unidades Básicas de Saúde, 4 Centros de Atenção Psicossocial (CAPs), Emergência Psiquiátrica e outros serviços. Todos têm profissionais da Psicologia capacitados para avaliação e manejo do risco de suicídio.
Então, é importante que as pessoas tenham a informação de que esses serviços são porta aberta para que os usuários possam obter o tratamento necessário. Sempre importante orientar as pessoas a buscar a UBS de referência da área em que residem para que possam passar por avaliação e, posteriormente, para o tratamento que precisarem.
Independente da realidade do serviço municipal, que é uma exceção em relação ao país todo por ter psicólogos em todos os serviços de atenção primária à saúde, o que não é uma realidade nacional, muitas medidas podem ser colocadas em prática na prevenção do suicídio.
Entendemos que há medidas de prevenção de cunho universal e que todos podem ser alvo dessas ações, como por exemplo através de campanhas de conscientização, divulgação de fatores de risco e sinais de alerta para detecção precoce de comportamento suicida.
Tem as ações de cunho seletivo, destinadas a um público alvo selecionado, uma população com risco moderado ou alto para suicídio, como, por exemplo, pessoas com diagnóstico de transtornos mentais, população LGBT, adolescentes, adultos- jovens e outros.
E ainda ações de intervenção indicadas e elaboradas especificamente para uma pessoa que já apresenta um risco de suicídio, como, por exemplo, pessoas que já fizeram uma tentativa e são inseridas nos serviços de saúde para tratamento.
Para quem não é profissional, a dica que sempre damos para quem identifica o risco de suicídio em um amigo, familiar ou alguém próximo, é ouvir atentamente e com empatia, oferecer acolhimento sem julgamento e referenciar para um serviço especializado, para que a pessoa possa obter ajuda profissional.
Veja os principais fatores predisponentes e precipitantes
Conheça sete mitos sobre comportamento suicida
1 – Se eu perguntar sobre suicídio, poderei induzir o paciente a isso…
• Por causa do estigma, as pessoas temem conversar sobre suicídio. Questionar sobre idéias suicidas, se feito de modo sensato e franco, fortalece o vínculo com o paciente, que passa a se sentir acolhido por um profissional cuidadoso, que se interessa pela extensão de seu sofrimento.
2 – Ele está ameaçando se suicidar apenas para manipular…
• Pode não ser bem assim. Muitas pessoas que se matam haviam dado sinais verbais ou não verbais de sua intenção para amigos, familiares ou médicos. A menção ao suicídio pode significar um pedido de ajuda. Ainda que, em alguns casos, possa haver um componente manipulativo, não se pode desconsiderar o risco.
3 – Quem quer se matar, se mata mesmo…
• Essa postura pode conduzir ao imobilismo terapêutico. Ao contrário dessa ideia, as pessoas que pensam em suicídio frequentemente estão ambivalentes entre viver ou morrer. Quando elas obtêm apoio emocional no momento certo, podem desistir do suicídio. Quando falamos em prevenção, não se trata de evitar todos os suicídios, mas sim de evitar aqueles que podem ser evitados.
4 – O suicídio só ocorre quando há uma doença mental…
• Ainda que uma doença mental esteja presente na maioria dos casos, isso não é obrigatório. O comportamento suicida em geral indica um sofrimento profundo, mas não necessariamente uma doença mental. É importante lembrar, também, que a maioria das pessoas acometidas por um transtorno mental não se mata.
5 – Veja se da próxima vez você se mata mesmo…
• O comportamento suicida exerce um impacto emocional sobre nós, desencadeia sentimentos de hostilidade e rejeição. Isso nos impede de tomar a tentativa de suicídio como um marco a partir do qual podem se mobilizar forças para uma mudança de vida.
6 – Quem se mata é bem diferente de quem se mata mesmo…
• Vistas em conjunto, as pessoas que tentam o suicídio têm características diferentes daquelas que de fato o cometem. No entanto, há muita heterogeneidade em cada um desses dois grupos. A motivação, a intenção e o grau de letalidade são variáveis. Por isso, é equivocado extrapolar achados de estudos populacionais a situações individuais.
7 – Uma vez suicida, sempre suicida…
• A elevação do risco de suicídio costuma ser passageira e relacionada a condições de vida adversas. Mesmo que a ideação suicida possa retornar em outros momentos, ela não é permanente. Pessoas que já pensaram em se matar, ou que chegaram a tentar o suicídio, podem viver, e bem, uma longa vida.
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