Em uma rua paralela, próximo à Universidade Estadual de Maringá (UEM), a porta metálica, com conexão Wi-Fi, só permite a entrada de pessoas cadastradas com login e senha. O esquema de segurança é para a proteção do Hackerspace Maringá, um laboratório comunitário onde cerca de dez pessoas se encontram para trocar ideias e desenvolver projetos.
O Hackerspace Maringá começou as atividades em 2013, com o objetivo de juntar os estudantes dos departamentos de computação e eletrônica da universidade, que antes ficavam separados. Um dos membros do grupo, Jair Certório, conta que a ideia do projeto surgiu dos próprios alunos de computação, por meio da matéria de hardware, que fazia parte da grade curricular do curso.
Certório foi convidado por um amigo para fazer parte da equipe e chegou no dia da primeira reunião para oficializar o projeto. “O Hackerspace é um espaço que tenta dar as ferramentas para as pessoas trabalharem nos projetos que elas querem. Um ambiente em que as pessoas podem compartilhar ideias, criar um produto ou a solução para a própria vida”, desafia.
Existem outros espaços semelhantes no Brasil, como o Garoa Hacker Clube em Pinheiros (SP) e o Tarrafa Hacker Club de Florianópolis (SC). “O movimento de hackerspace ocorre no mundo inteiro e aqui no Brasil a gente acabou conhecendo depois que decidimos ir para eventos de software.”
Segundo Certório, alguns levam o nome de makerspace, por causa da palavra hacker ser associada a invasão de sistemas informáticos e ações ilegais.
O jovem explica: o hacker é aquele que tenta entender como algo funciona e adapta para a função que quiser. “Existe diferença entre quem quer transformar algo e aqueles que pretendem invadir o site do banco para roubar dinheiro. É uma questão de ética. A pessoa tem que respeitar o que ela pode ou não alterar”, afirma.
Membros alugaram espaço em 2017
Até ano passado, o espaço era vinculado à UEM e as atividades eram realizadas dentro do Centro Acadêmico de Computação. Com doações de alguns membros do grupo, eles conseguiram alugar o espaço próprio para continuar desenvolvendo os projetos. “A gente não recebeu muito apoio da universidade. Tiveram algumas parcerias, mas a universidade não tem uma estrutura muito boa”, afirma Certório.
A estrutura do atual laboratório é divida em três partes. Um dos espaços é voltado para área de marcenaria e conta com ferramentas como furadeira e esmeril. Em outro local, uma mesa é utilizada para componentes eletrônicos e, na terceira, os participantes utilizam os computadores.
No espaço, qualquer pessoa pode desenvolver um produto e não precisa estar ligado à área de engenharia. Atualmente entre os dez participantes, estão estudantes de direito, física e até de letras. “Cada um vai desenvolvendo seu projeto, pede ajuda para alguém e vai trocando ideia. De vez em quando a gente se une para realizar cursos.”
Para fazer parte do Hackerspace, o interessado entra em contato e não precisa pagar nada. O grupo aceita apenas doações voluntárias para ajudar a manter o projeto. “Tem que se comprometer com as regras para usar o espaço e demonstrar ser uma pessoa responsável, já que temos alguns instrumentos de risco”, acrescenta.
Criações vão de robô à avião de isopor
Certório terminou a graduação de engenharia elétrica no ano passado, mas ainda continua atuando e desenvolvendo projetos no laboratório. Ele lembra que o primeiro projeto que desenvolveram foi transformar um simples carrinho de controle remoto, que custava aproximadamente R$ 40, em um robô.
“A gente desmontou o carrinho e trocou o rádio dele por bluetooth. Assim, conseguimos controlar pelo computador e, com um câmera sem fio, temos um robozinho pronto”, conta.
O grupo também fez, em parceria com estudantes de música e comunicação e multimeios da UEM, com que uma câmera de filmagem conseguisse captar os movimentos do corpo humano e a partir deles produzir música.
As ideias não param de surgir no Hakerspace. Como o espaço é novo, existem várias demandas a serem cumpridas. “Um colega meu está tentando fazer um avião de controle remoto de isopor e outro tentando fazer o site voltar a funcionar. Estamos tentando também, com que as câmaras de segurança do local possam ser vistas remotamente”, diz.
Estudante descobriu área de atuação
Karina Soares, 22, veio de São Paulo para cursar letras na UEM. A estudante, no último ano do curso e uma amiga de graduação, são as únicas mulheres do Hackerspace.
Karina começou a frequentar o espaço em 2016 e diz que não foi bem uma decisão. A universitária conta que os membros do grupo pediram para que ela ajudasse a trazer mais mulheres para o projeto e, quando percebeu, estava envolvida.
O que Karina não imaginava era que uma estudante de Letras poderia encontrar no Hackerspace, um espaço voltado para computação, a área que gostaria de seguir. “Estava saindo do terceiro ano quando conhecei a linguística computacional e comecei a estudar. Se não fosse a ajuda deles, não teria descoberto a minha futura área.”
Hoje em dia, ela já trabalha com linguística computacional e está desenvolvendo projeto de iniciação científica dentro da universidade.
“Meu projeto agora é sobre um analisador automático de artigo de opinião. O intuito dele é analisar, de forma automática, as sentenças que compõem o artigo. Ensino a máquina e toda vez que eu der um artigo de opinião, é como se ela fosse corrigir”, explica.
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