Paraná investiu R$ 50 milhões, mas vacina contra dengue não deve ser usada por quem nunca teve a doença, recomenda Anvisa

  • A vacina contra a dengue que vem sendo usada nas campanhas de vacinação nas principais regiões infectadas pelo mosquito Aedes aegypt no Paraná, inclusive Maringá, não é mais recomendada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para quem nunca teve a doença.

    A Anvisa divulgou nesta quarta-feira (29/11) que o laboratório Sanofi-Aventis, fabricante da vacina da dengue Dengvaxia, apresentou informações que sugerem que pessoas que nunca tiveram contato com o vírus podem desenvolver formas mais graves da doença caso tomem a vacina.

    A suspeita do laboratório, apresentada nesta semana, ainda não é conclusiva, mas, diante do problema, a recomendação da Anvisa é que a vacina não seja tomada por pessoas que nunca tiveram dengue. A Dengvaxia foi aprovada no Brasil em dezembro de 2015.

    Apesar de esclarecer que a vacina por si só não é capaz de desencadear um quadro grave da doença nem induzir ao aparecimento espontâneo da dengue – para isso, é preciso ser picado por um mosquito infectado -, existe a possibilidade de que pessoas soronegativas desenvolvam um quadro mais agudo caso sejam infectadas após terem recebido o medicamento.

    Embora a vacina não seja oferecida pelo Programa Nacional de Imunizações, o Paraná passou a importar Dengvaxia por conta própria em 2016, para combater a doença nas regiões epidêmicas. O primeiro lote, com 250 mil frascos, chegou no Estado no dia 3 de agosto daquele ano.

    No total, o governo estadual investiu R$ 50 milhões na compra de 500 mil doses da vacina. O produto é indicado para imunização contra os quatro subtipos do vírus. Para as pessoas que já tiveram dengue, a Anvisa avalia que o benefício do uso da vacina permanece favorável.

    A campanha estadual abrangeu 30 municípios, os que mais registram casos de dengue, entre os quais Maringá, Mandaguari, Marialva, Sarandi, Paiçandu e Iguaraçu. A terceira etapa da vacinação contra a doença nas cidades prioritárias foi encerrada no dia 11 de novembro deste ano, com público alvo de jovens entre 15 e 27 anos.

    Nos 30 municípios, o objetivo era vacinar cerca de 300 mil pessoas, mas na região de Maringá menos de 60% foram vacinados. Quando o prazo da campanha foi prorrogada, na cidade apenas 52,9% dos jovens na faixa etária selecionada haviam sido imunizados.

    A bula da vacina será atualizada enquanto a Anvisa avalia os dados completos dos estudos, que ainda serão apresentados pelo fabricante. A vacina da Sanofi, chamada Dengvaxia, é a única aprovada no Brasil.

    Por meio de um comunicado, a Anvisa esclareceu que “este risco não havia sido identificado nos estudos apresentados para o registro da vacina na população para a qual a vacina foi aprovada”.

    A agência informou que, antes do registro, os efeitos da imunização foram estudados em mais de 40 mil pessoas em todo o mundo, e que as pesquisas seguiram os padrões estabelecidos por guias internacionais da Organização Mundial da Saúde (OMS).

    Paraná vai manter a campanha, diz secretário

    A Secretaria de Estado da Saúde vai manter a oferta da vacina contra a dengue nos 30 municípios definidos para receber a campanha desde 2016. A afirmação, feita nesta quarta-feira (29/11), foi divulgada nesta-quinta (30/11), é uma resposta à nota da Anvisa que incluiu a recomendação de que as pessoas não expostas ao vírus da dengue não devem ser vacinadas.

    “Essa nota da Anvisa reforça a estratégia adotada pelo Estado, que ofereceu a vacina somente nos 30 municípios que concentravam 82% dos casos registrados no Paraná, 91% dos casos graves e 87% das mortes por dengue. São as cidades que enfrentaram epidemias consecutivas, com alta circulação viral e que registraram grande magnitude de casos”, esclareceu o secretário de Estado da Saúde, Michele Caputo Neto.

    O secretário ressalta que 80% dos casos de primeira infecção por dengue é assintomática, ou seja, a pessoa não identifica a doença. Portanto, mesmo aqueles que não tiveram o diagnóstico de dengue mas vivem em cidades endêmicas podem ter tido contato com o vírus, o que reforça a decisão do Paraná em vacinar nos municípios selecionados.

    As evidências científicas apresentadas pela empresa produtora demonstram claramente que a vacina não causa dengue. “O risco encontrado no estudo NS1 aponta que a possibilidade de o indivíduo vacinado não previamente exposto ao vírus da dengue desenvolver dengue com sinais de alarme é 0,5% maior do que os indivíduos não vacinados e que nunca foram expostos ao vírus da dengue”, diz a diretora médica da Sanofi Pasteur, Sheila Homsani.

    A médica ressalta, no entanto, que todos os casos identificados de manifestações adversas tiveram recuperação total, com tratamento de rotina.

    São necessárias três doses, com intervalo de pelo menos seis meses entre elas, para garantir imunidade duradoura dos vacinados. A campanha do Paraná já teve três etapas: agosto/setembro de 2016; março/abril e setembro/outubro de 2017.

    Em março de 2018 será feita nova campanha para atender àqueles que receberam a primeira e a segunda dose em etapas anteriores. Foram vacinados 300 mil pessoas no Paraná.

    A secretaria estadual da Saúde monitora os vacinados nos 30 municípios que receberam a campanha e não registrou nenhuma reação adversa grave. Somente foram notificadas reações locais leves.

    Além da vigilância sobre reações adversas, também está sendo feito o monitoramento cruzado entre vacinados e novos casos confirmados de dengue.

    “Desde agosto de 2016, quando foi definida a campanha de vacinação, foram confirmados 1061 casos de dengue no Paraná e nenhuma morte pela doença, sendo que somente 40 pessoas vacinadas foram notificadas com dengue leve sem confirmação laboratorial, apenas suspeita clínica. Isso representa 0,01% do total de vacinados” destaca a superintendente de Vigilância em Saúde, Julia Cordellini.

    No período epidemiológico anterior, entre agosto de 2015 e julho de 2016, o Paraná registrou 56.351 casos e 63 óbitos por dengue.

    A superintendente também destaca que estão sendo realizados estudos de efetividade e segurança da vacina nos 30 municípios que receberam a campanha.

    Além de técnicos da Secretaria de Estado da Saúde, participam dos estudos profissionais da Universidade Federal do Paraná (UFPR), do Hospital Pequeno Príncipe de Curitiba, representantes do Ministério da Saúde, Organização Pan Americana de Saúde (OPAS), Instituto Sabin e pesquisadores da Santa Casa de São Paulo e Universidade de São Paulo (USP).

    • Primeira atualização foi feita às 16h24 desta quinta-feira (30/11/2017), com a inclusão, na íntegra, do release da secretaria de Saúde do Paraná.  

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