Guitarrista de banda de rock de Maringá usa suástica nazista em festa a fantasia e sofre bombardeio verbal nas redes sociais

  • O guitarrista Matheus Petrocelli nem de longe imaginava as desgastantes consequências que sofreria quando teve a infeliz ideia de sacar do guarda-roupas uma velha jaqueta com botões e enfeitá-la com uma suástica para se apresentar no show da banda de rock Black Tones, em uma festa a fantasia no Tribo’s Bar, na madrugada de sábado (28).

    O uso do símbolo nazista na manga direita da jaqueta preta colocou o jovem na mosca do alvo de uma saraivada de ataques pessoais na sua página no Facebook. Após receber dezenas e dezenas de disparos, chamando-o de “nazista” e “fascista”, o rapaz não teve outra alternativa a não ser tirar a página do ar.

    As manifestações de quem ousou defender ou apenas ser tolerante em relação ao uso da fantasia com a suástica pelo guitarrista da Black Tones também foi verbalmente massacrado nas redes sociais. Victor Hugo, por exemplo, postou na página do Tribo’s Bar que sente “saudades da época que podíamos chamar o amigo de negão ou viado sem alguém por perto se ofender”.

    “Hoje parece que se o sujeito der um bom dia errado – continuou Hugo -, já ganha um processo por danos morais e capaz até, se do mestre cuca usar um chapéu meio amarrotado, confundirem ele com um integrante da Ku Klux Klan e queimarem ele lá na catedral”.

    E concluiu: “Não estava no evento, não vi o caso ao vivo, mas se o cara colocou a roupa, foi lá e fez o trampo dele, pra mim pouco importa se ele estava de sunga, farda nazi(sta) ou fantasiado de WTC (World Trade Center) 11/09”. Na sequência, imediatamente seguiram 17 comentários, os mais educados  simplesmente pediam para ele “calar a boca”.

    A dimensão dos bombardeios verbais levou tanto os proprietários do Tribo’s Bar quanto os líderes da Black Tones a publicarem notas nas redes – a da banda foi apagada algum tempo depois, mas diz “rolou um mal entendido e algumas pessoas estão achando que alguém da banda é um nazista… Sim, acreditem”.

    A banda também reconhece que “infelizmente a escolha da fantasia com uma suástica realmente não foi a melhor, mas assim como todos vocês nós não acertamos sempre! Nós também somos contra qualquer tipo de preconceito e discriminação. Espero que vocês compreendam e reconheçam o mal entendido que rolou”.

    Black Tones
    Nota da banda Black Tones no Facebook, que foi apagada momentos após a postagem

    Já o Tribo’s Bar posicionou-se “como contra qualquer tipo de manifestação de ódio e preconceito” e lembra que nos 21 anos de existência do bar sempre presou por respeito e diversidade. A nota diz ainda que “também achamos de muito mau gosto uma fantasia que traz tantas lembranças dolorosas”.

    E conclui a nota dizendo que “com certeza a lei está aí para tomar as devidas providências”. Aliás, o mesmo argumento legal, invocando o artigo 20 da lei nº 9.459, têm sido utilizado nas postagens das redes sociais, para afirmar que Matheus Petrocelli cometeu um crime.

    Como em quase tudo no Direito, tal afirmativa decorre de variantes interpretativas da lei. Especificamente o artigo citado diz que é crime “fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda que utilizem a cruz suástica ou gamada para fins de divulgação do nazismo. Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa”.

    No entanto, a lei não expressa punição aos que forem flagrados utilizando o símbolo propagado por Adolf Hitler durante o domínio nazista na Alemanha, de 1933 a 1945,  quando pelo menos 6 milhões de judeus foram exterminados.

    Em uma festa a fantasia – como é o caso de Petrocelli – o uso do símbolo do holocausto dificilmente será possível caracterizar como propagação do nazismo e apologia ao genocídio, que são crimes passíveis de punição.

    Black Tones no Palco
    Banda se apresentou no Tribo’s Bar na madrugada de sexta-feira  para sábado (28)

    Íntegra da nota publicada na página do Facebook do Tribo’s Bar.

    Tribo's
    Tribo’s manifestou-se contra o preconceito e discriminação

    Colaborou o repórter Victor Faria.

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