Nos dois primeiros dias de novembro, 150 mil pessoas devem passar pelo Cemitério Municipal de Maringá para rezar pelos seus parentes e amigos já falecidos, seguindo rituais e crenças de acender velas e arrumar os túmulos com flores.
Mas o fluxo de pessoas no cemitério já começou a aumentar, segundo o gerente da unidade Carlos Parolin. Explica que a manutenção dos túmulos, pelos familiares, e da área do cemitério, pelo poder público, em outubro é maior do que a feita normalmente durante o ano, com serviços de capina, roçada e varrição.
Os muros do cemitério, por exemplo, foram pintados de verde. Atualmente são cerca de 27 mil sepulturas e 80 mil pessoas sepultadas – na área onde funcionava o Instituo Médico Legal (IML), houve a demolição do antigo prédio, mas nenhuma obra de ampliação foi feita.
Dentre essas 27 mil sepulturas, três delas são, quase todos os anos, as mais visitadas, possivelmente pela circunstâncias das mortes, no caso das duas crianças (Clodimar Pedrosa Lô e Márcia Constantino), e pela dedicação religiosa, no caso do Monsenhor Bernardo.
Violência, atribuições de milagres e vida religiosa
Há muitos anos, o túmulo mais visitado é do Clodimar Pedrosa Lô, que tornou-se uma espécie de santo popular. Muitas pessoas atribuem a ele autoria de milagres e de graças que alcançaram.
A lápide do túmulo é cheia de placas de metal, deixadas por vistantes de várias regiões do Brasil. O garoto morreu no dia 23 de novembro de 1967, torturado e assassinado por policiais.
Três anos após o crime, o pai de Clodimar veio de Parambu (CE) para se vingar. O homem matou o gerente do hotel, a queima-roupa, na Avenida Brasil. Ele foi levado três vezes a júri popular, sendo absolvido.
A história de Clodimar virou peça de teatro e filme. Veja trailer do documentário produzido e dirigido pelo publicitário Eliton Oliveira, que traz o depoimento de 12 pessoas que testemunharam o caso.
O túmulo do Monsenhor Bernardo, que tinha como nome de batismo Bernando Abel Alphonse Cnudde, servia na Igreja Espírito Santo, também é muito procurado. As pessoas costumam deixar rosários e vasos de flores.
Ele estudou no Seminário Menor Sagrado Coração de Jesus, em Lampaul- Guilliaume na França, cursou Filosofia e Teologia no Seminário Saint-Jacques. Foi ordenado sacerdote em Saint-Jacques, no dia 29 de junho de 1966.
Em 1965, ainda como diácono, foi convidado por Dom Jaime Luiz Coelho (1° Arcebispo de Maringá) para vir trabalhar no Brasil, especificamente na Diocese de Maringá, onde já haviam outros sacerdotes franceses trabalhando.
Veio para o Brasil, no dia 17 de novembro de 1966 e iniciou seus trabalhos como vigário colaborador. Trabalhou na Arquidiocese de Maringá, onde permaneceu até 2000, quando veio a óbito, no dia 20 de novembro.
Segundo consta, ele não queria ser sepultado no Cemitério Rainha da Paz, que é dedicado aos religiosos, e sim enterrado com o seu povo.
Outro túmulo que atrai muitas pessoas é da menina Márcia Constantino, que tinha apenas 10 anos quando foi abusada e assassinada, por Natanael Búfalo, que usou uma sacola plástica de supermercado para sufocá-la.
Depois, o ex-frequentador da igreja Assembleia de Deus onde sequestrou Márcia, levou o corpo até uma plantação de milho e ateou fogo. O crime, em 20 de outubro de 2007, chocou Maringá.
O autor do crime foi preso uma semana depois das atrocidades que cometeu e confessou. Veja entrevista:
Pessoas ganham dinheiro com a limpeza de túmulos
Jorge Salomão Camilo Filho trabalha limpando túmulos no Cemitério Municipal há 20 anos. Ele era operador de máquina e com os rumores que a empresa onde trabalhava ia fechar, decidiu limpar sepulturas, na procura de outra renda.
Segundo ele, agora na época de finados o número de lápides para limpar aumenta 20%.”Muitas pessoas vêm de fora, está muito sujo e eles pagam para lavar o túmulo. A gente vive mesmo com isso daqui, que recebemos por mês”, afirma.
Ele conta que no restante do ano ele costuma limpar 130 túmulos por mês, a R$ 25 cada. Agora, no períodos de finados, quando aumenta a procura, o preço sobe para R$ 50, “dependendo do tamanho da sepultura”.
Camilo diz que a maioria dos clientes são antigos e “desses são mais difícil reajustar os preços. Tem muito cliente velho que se você aumentar eles não pagam, aí a gente não aumenta”.
Maria Lucineide de Oliveira, 66, também limpa sepulturas há 15 anos. Além de trabalhar no cemitério, ela é empregada doméstica a 20 anos na mesma família. O túmulo que ela estava limpando nesta quarta-feira (18) é do pai de um dos seus atuais patrões.
Lucineide conta que costumava ir ao cemitério para levar a refeição do marido que trabalhava com revestimento de túmulos e um dia foi convidada a lavar um túmulo: “Quando eles falaram sobre os túmulos, aceitei com a maior alegria e estou aqui cuidando.”
Maria Helena Cavalcante, 60, estava fazendo a limpeza das criptas dos pais e do irmão na quarta-feira (18) de manhã. Ela faz essa rotina pelo menos duas vezes no mês, revezando com os outros irmãos.
A família decidiu cuidar do túmulo sozinha, porém ela acredita que vai precisar contratar alguém para realizar o serviço de limpeza: “Tem bastante filho, mas eu acho que a gente vai ter que pagar. Quase ninguém tem tempo”, ressalta.
Comércio ambulante só nos dias 1 e 2
- Será permitido nos dias 1º e 2 de novembro o comércio ambulante nas calçadas do cemitério, na Avenida Juscelino Kubitscheck de Oliveira e Rua Vereador Primo Monteschio, respeitando a legislação municipal
- O comércio ambulante não é permitido em frente ao prédio da administração do cemitério, no interior do cemitério e na Rua Men de Sá, respeitando o limite de 20 metros entre os portões da Câmara de Velórios e o portão 3
Prazos para reforma e limpeza dos túmulos
- Revestimentos, pinturas e reformas das sepulturas podem ser realizadas até o dia 29 de outubro. Os serviços só voltam a ser liberados no dia 3 de novembro
- Limpeza, polimentos e a instalação de placas, fotos, inscrições, tampões de granito ou mármore e vasos podem ser feitas até o dia 31 de outubro. Esses serviços só podem ser retomados no dia 7 de novembro
- O horário de funcionamento do cemitério é das 8h às 18 horas, todos os dias da semana.
- No cemitério é proibida a entrada de vasos com ornamentações plásticas ou papel impermeável
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