Documentários mostram como a morte de Diana surpreendeu o mundo e mudou a realeza

O mundo viu Diana crescer de uma tímida professora de creche adolescente para uma celebridade glamourosa e humanitária.

  • Acima de tudo, houve choque. Essa é a palavra que as pessoas usam quando se lembram da morte da princesa Diana em um acidente de carro em Paris, no dia 31 de agosto de 1997. A data é recordada em diversos documentários em exibição no streaming e na TV por assinatura, como A Morte da Princesa Diana (The Diana Investigations), produção inédita em cartaz no Discovery e o discovery+, além de A História de Diana, que o canal GNT programou para as terças-feiras 6, 13 e 20 de setembro.

    A mulher que o mundo viu crescer de uma tímida professora de creche adolescente para uma celebridade glamourosa, que confortava pacientes de aids e fazia campanha pela remoção de minas terrestres não poderia estar morta aos 36 anos.

    “Acho que precisamos nos lembrar de que ela era provavelmente a mulher mais conhecida no mundo de língua inglesa, além da própria rainha Elizabeth II”, disse o historiador Ed Owens. “E, dada a enorme personalidade como celebridade que ela desenvolveu, extinguir isso da noite para o dia, para ela morrer em circunstâncias tão trágicas, em uma idade tão jovem, acho que realmente foi um choque enorme para muitas pessoas.”

    Foi essa descrença que cimentou o legado de Diana como a mulher que trouxe mudanças duradouras para a família real britânica, ajudando a preencher a lacuna entre séculos de tradição e uma nova nação multicultural na era da internet.

    Primeiro, houve a manifestação de pesar do público que correu à casa da princesa no Palácio de Kensington para lamentar a perda de uma mulher que a maioria nunca conheceu. Isso forçou a realeza a reconhecer que o toque comum de Diana se conectava com as pessoas de uma maneira que não havia ocorrido à Casa de Windsor.

    Desde então, essas lições inspiraram outros membros da realeza, incluindo os filhos de Diana, os príncipes William e Harry, a serem mais informais enquanto se esforçam para manter a monarquia relevante no século 21. Como prova, observe o show que foi peça central do Jubileu de Platina de junho, comemorando os 70 anos da rainha no trono.

    Havia bandas de rock e cantores de ópera, dançarinos e lasers pintando imagens no céu. Mas o maior aplauso foi para a própria Elizabeth, que apareceu em um curto vídeo compartilhando um bule de chá – e finalmente revelar o que está dentro de sua famosa bolsa preta: um sanduíche de marmelada – apenas para emergências

    A história de Diana

    Não era óbvio que Diana seria uma rebelde real quando se casou com o príncipe Charles. Membro da aristocrática família Spencer, que tinha laços estreitos com a família real e uma casa senhorial de 500 anos no centro da Inglaterra, Diana era conhecida por arcos de babados, saias sensuais e um cabelo loiro de menino quando começou a namorar o futuro rei.

    Depois de deixar a escola aos 16 anos, ela passou um tempo em uma escola nos Alpes suíços e trabalhou como babá e professora de pré-escola enquanto morava em Londres. Mas Diana parecia florescer, tornando-se um ícone de estilo internacional no momento em que desceu o corredor da Catedral de São Paulo em 29 de julho de 1981, envolta em renda e seguida por um véu de 7 metros.

    Repórteres e fotógrafos seguiam Diana onde quer que ela fosse. Embora a princesa odiasse a intrusão, ela rapidamente aprendeu que a mídia também era uma ferramenta que poderia usar para chamar a atenção para uma causa e mudar a percepção do público.

    Esse impacto foi visto de forma mais famosa quando a princesa abriu a primeira enfermaria especializada do Reino Unido para pacientes com aids, em 9 de abril de 1987.

    Essas cerimônias de corte de fita eram obrigatórias entre os deveres reais. Mas Diana percebeu que havia mais em jogo. Ela pegou as mãos de um jovem paciente, demonstrando que o vírus não podia ser transmitido pelo toque. O momento, captado por fotos divulgadas mundialmente, ajudou a combater o medo, a desinformação e o estigma em torno da epidemia de aids.

    Uma década depois, Diana era ainda mais experiente em mídia. Sete meses antes de morrer, a princesa vestiu uma viseira de proteção e colete à prova de balas e caminhou por um caminho aberto em um campo minado em Angola para promover o trabalho do The Halo Trust, grupo dedicado à remoção de minas de antigas zonas de guerra. Quando ela percebeu que alguns fotógrafos não conseguiram a foto, ela se virou e fez de novo.

    Mais tarde, Diana se encontrou com vítimas de minas terrestres, segurando no colo uma jovem que havia perdido a perna esquerda. As imagens chamaram a atenção internacional para a campanha para livrar o mundo dos explosivos que espreitam no subsolo muito depois do fim das guerras. Hoje, um tratado que proíbe minas terrestres foi assinado por 164 países.

    O preço da fama

    Mas essa plataforma pública teve um preço. Seu casamento se desintegrou, com Diana culpando a ligação contínua de Charles com a amante de longa data Camilla Parker Bowles. A princesa também lutou contra a bulimia e reconheceu tentativas de suicídio, de acordo com Diana Her True Story – In Her Own Words, publicado em 1992 com base em fitas que Diana enviou ao autor Andrew Morton.

    “Quando comecei minha vida pública, há 12 anos, entendi que a mídia poderia se interessar pelo que eu fazia. Percebi que a atenção deles inevitavelmente se concentraria em nossas vidas privadas e públicas”, disse Diana em 1993. “Mas eu não estava ciente de quão avassaladora essa atenção se tornaria. Nem a extensão em que isso afetaria meus deveres públicos e minha vida pessoal, de uma maneira que tem sido difícil de suportar”.

    Morte

    No final, isso contribuiu para a morte da princesa. Em 30 de agosto de 1997, um grupo de paparazzi que estava acampado do lado de fora do Hotel Ritz, em Paris, na esperança de tirar fotos de Diana e do namorado Dodi Fayed, perseguiu seu carro até o túnel Pont de l’Alma, onde o motorista perdeu o controle e bateu.

    Diana morreu nas primeiras horas de 31 de agosto de 1997, no Hospital Pitie-Salpetriere. Um mundo atordoado lamentou. Buquês de flores, muitos incluindo notas pessoais, cobriam os jardins do lado de fora da casa de Diana no Palácio de Kensington. Cidadãos chorando encheram as ruas do lado de fora da Abadia de Westminster durante seu funeral.

    A reação do público contrastou com a da família real, criticada por não aparecer rapidamente em público e se recusar a baixar a bandeira sobre o Palácio de Buckingham a meio mastro em homenagem à princesa.

    O luto levou a um exame de consciência entre os membros da Casa de Windsor.

    “Acho que seu legado foi algo que a rainha em sua sabedoria (procurou) adotar nos primeiros anos após sua morte”, disse Sally Bedell Smith, autora de Diana in Search of Herself. “Eles modificaram de forma muito eficaz alguns dos padrões formais sobre a maneira como cumprem seus deveres”, disse ela sobre a realeza. “A rainha era mais propensa a interagir com as pessoas, e acho que você vê a informalidade ampliada agora, principalmente com William e Kate.”

    A nova geração da realeza britânica

    William, sua mulher, Kate, e Harry destacaram o legado de Diana, tornando a melhoria dos serviços de saúde mental um objetivo principal, chegando ao ponto de discutir publicamente suas próprias lutas. Harry também homenageia os veteranos militares feridos.

    A reabilitação da reputação de Charles teve que esperar até que a raiva pública sobre o tratamento que ele deu a Diana começasse a desaparecer. Isso já está bem encaminhado, ajudado por seu casamento em 2005 com Camilla, a quem se credita suavizar sua imagem e torná-lo mais acessível. A rainha no início deste ano disse que esperava que Camilla se tornasse rainha consorte quando Charles ascender ao trono.

    Mas há lições para a monarquia aprender enquanto luta com as consequências do escândalo sobre as ligações do príncipe Andrew com Jeffrey Epstein. Além disso, há a decisão de Harry de desistir dos deveres reais em troca por uma vida no sul da Califórnia (EUA).

    Meghan e Harry disseram que sua decisão foi desencadeada pelo tratamento do palácio a Meghan, uma ex-atriz americana que cresceu em Los Angeles. Em entrevistas, Meghan disse que um membro da família real até perguntou sobre a possível cor da pele de seu primeiro filho antes de ele nascer.

    Este episódio mostra que a realeza não aprendeu totalmente a lição de Diana, disse Owens, autor de The Family Firm: Monarchy, Mass Media and the British Public 1932-1953. “Mais uma vez, não foi criado espaço suficiente”, disse Owens sobre Meghan.

    Diana teve suas próprias lutas com o palácio, expondo suas queixas em uma entrevista à BBC de 1995 que continua a ser manchete. A BBC foi forçada a se desculpar no ano passado depois que uma investigação descobriu que o repórter Martin Bashir usou “métodos enganosos” para garantir a entrevista.

    O irmão de Diana disse este ano que a entrevista e a forma como foi obtida contribuíram para a morte da princesa porque a levou a recusar a proteção continuada do palácio após o divórcio. Mas suas palavras sobre como ela desejava ser vista permanecem firmemente na memória.

    “Eu gostaria de ser a rainha no coração das pessoas, mas não me vejo sendo a rainha deste país”, disse Diana na entrevista. “E não acho que muitas pessoas queiram que eu seja rainha.”

    Estadão Conteúdo / Imagem: John Mathew Smith

    Comentários estão fechados.